Um dos personagens centrais da crise política, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado de mandato suspenso pelo Supremo, parece estar cada vez mais próximo dos cadafalsos colocados à sua frente, nos planos político-parlamentar e judicial. Não é sempre que um político enfrenta tantas ameaças, e todas justificadas.
Impressiona o número de problemas que o deputado semeou contra si mesmo. O ministro do Supremo Teori Zavascki, relator das denúncias na Lava-Jato contra políticos com foro privilegiado, acaba, por exemplo, de liberar para julgamento pela Corte o processo em que o deputado é acusado de ter aberto contas bancárias na Suíça para abastecê-las de dinheiro de propinas.
Já anteontem, a mulher de Cunha, Cláudia Cruz, sem foro especial, virou ré na Lava-Jato, e deverá ser julgada por Sérgio Moro, por ter, segundo o Ministério Público, se beneficiado de milhares de dólares dessas contas de Cunha. Dinheiro do contribuinte, segundo o procurador Deltan Dallagnol, ?convertido em sapatos e roupas de grife?. Para piorar a situação de Cunha, o encaminhamento da denúncia contra Cláudia pulveriza a argumento que usa no processo de cassação que enfrenta no Conselho de Ética da Câmara, de que as contas são de um trust e não dele. Para a Lava-Jato, Cunha é o trust, como parece óbvio.
O deputado, a quem o ministro Teori concedeu cinco dias de prazo para se defender em outro processo, este sobre uma propina de US$ 5 milhões cobrada num contrato de aluguel de navios-sonda à Petrobras, ainda tem contra si um pedido de prisão preventiva do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Motivo: mesmo suspenso do mandato, e, por tabela, da presidência da Câmara, Cunha continua a manobrar para que o Conselho de Ética não aprove a proposta de sua cassação. Por ter mentido na CPI da Petrobras, ao garantir que não tinha contas ocultas no exterior ? foi desmascarado com provas documentais.
Uma das últimas manipulações de Cunha no Conselho é garantir com o PRB, partido da deputada Tia Eron (BA), o voto dela sobre o relatório do pedido de impeachment, e que pode ser decisivo. O presidente licenciado do partido, Marcos Pereira, ministro de Temer na Indústria e Comércio, seria elo da trama montada para livrar Cunha integralmente ou condená-lo a uma pena leve, como suspensão. Mas a maré não está mesmo favorável ao deputado, e não apenas devido ao avanço da Lava-Jato sobre as contas suíças, pelo flanco dos gastos luxuosos de Cláudia Cruz.
Também cresce de importância a atuação de Cunha na CEF, por meio do vice-presidente Fábio Cleto, indicado por ele e demitido por Dilma assim que o deputado aceitou o pedido de impeachment. Pois Cleto aceitou fazer delação premiada, e assim se cravam mais estacadas no peito de Cunha.
Só os empresários da Carioca Engenharia, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Jr., relatam propinas de R$ 52 milhões para Cunha, a fim de liberar recursos para obras no Porto Maravilha, de responsabilidade da Odebrecht e da OAS. É uma aula prática de por que políticos querem nomear diretores de banco públicos. O caso fez Janot, ontem, encaminhar mais uma denúncia contra Cunha. Que o governo Temer não se envolva em tentativas de defender o indefensável.