HAVANA ? Os cubanos se preparam para começar nesta segunda-feira as homenagens ao ex-presidente Fidel Castro na Praça da Revolução, em Havana. Aos 90 anos, líder guerrilheiro comunista morreu às 22h29 de sexta-feira, e o seu falecimento foi anunciado na madrugada de sábado pelo seu irmão, o atual presidente da ilha caribenha, Raúl Castro. O governo declarou nove dias de luto nacional e programou uma semana de homenagens.
Fidel morreu uma década depois de entregar o poder ao irmão Raúl Castro devido a problemas de saúde. Ele foi cremado no sábado, e suas cinzas serão levadas em um cortejo para um local de repouso definitivo em Santiago de Cuba, a cidade do leste cubano na qual ele deu início à revolução.
O governo convidou a população para uma cerimônia de dois dias na Praça da Revolução que começa às 9h desta segunda-feira (horário local). Trabalhadores se apressaram para instalar alto-falantes e iluminação na praça, onde uma foto gigantesca de Fidel foi estendida sobre a biblioteca nacional. No mesmo espaço, um pôster enorme de Jesus Cristo esteve pendurado para a visita do papa Francisco no ano passado.
? Quem não será afetado por um homem que fez tudo por nós? ? disse José Luis Herrera, parte da equipe de 12 pessoas que instalou a imagem. ? Ele é aquele que guiou a mim e aos meus filhos. Ele é meu Deus.
Raúl Castro, membros do governo, líderes militares e integrantes do Partido Comunista deverão depoistar flores perto do monumento do herói nacional cubando José Marti, considerado o pai de independência cubana no século XIX. Em seguida, deverá vir uma longa fila de cidadãos comuns, como em outros memoriais públicos na ilha caribenha.
FUTURO DE INCERTEZAS
A cerimônia na capital terminará na noite de terça-feira, quando líderes estrangeiros devem prestar suas homenagens a Fidel. Mesmo afastado do poder, o líder máximo da revolução era um ?sustento moral? ao governo cubano e morreu em um momento de fortes mudanças globais e de direção nos EUA (que podem abortar a aproximação dos dois) e de maior desinteresse sobre a ilha, graças ao ocaso da parceira Venezuela e à sofisticação da política externa chinesa.
Se por um lado cubanos acreditam que Raúl agora terá mais liberdade para implementar reformas, por outro, não contará com o apoio (muitas vezes apenas simbólico) do irmão, que podia tudo. Agora ele terá mais liberdade, mas deverá ser mais questionado, dizem cubanos em sigilo.
? Chorei quando soube da morte de Fidel, porque realmente me doeu ? afirmou a dona de casa Sonia Cordovez, de 48 anos, que tem verdadeira veneração pelo líder, ao GLOBO. ? Sabemos que ele é sério, mas o fato é que agora Raúl terá que dar conta de um país inteiro sozinho ? disse ela, resumindo o pensamento de grande parte dos cubanos favoráveis ao sistema.
Mesmo os que defendem o regime e gostam do estilo de Raúl temem o que está por vir. Aos 85 anos, ele parece gozar de boa saúde e indica que designará Miguel Díaz-Canel, 56, seu braço-direito e vice-presidente, como sucessor. Seria alguém da nova geração. Mas a opaca política cubana impede apostas seguras e amplia o medo dos moradores, que agora não sabem como será o futuro da terra da salsa, do rum e do charuto.