RIO – Que apreciador de música popular não gostaria de viver, hoje, a experiência de um show de Amy Winehouse ou dos reis (do pop) Michael Jackson e (do rock) Elvis Presley? Qual deles, então, deixaria passar a chance de ver e ouvir, como se fosse nos velhos e bons tempos, bandas extintas ? ou que não se reúnem mais, ou que perderam integrantes-chave ? como Beatles, Abba, Queen, Bee Gees e Pink Floyd? Para além dos meros covers, os espetáculos de tributo a grandes astros do pop, com figurinos, coreografias, luz e tudo tal e qual os originais, vêm ocupando importante espaço no Rio e em outras cidades Brasil afora.
Sábado à noite, no Vivo Rio, acontece a ?Amy Winehouse celebration?, com o cantor britânico Zalon (que fez parte da banda de Amy e inclusive veio com ela ao Brasil em 2011) e os nacionais Afrojazz, Lia Paris, Rachel Maia, Shelly Simon, DJs Egil e Ambassodor. E no Teatro Bradesco, no dia 27, é a vez de ?Back to Amy?, espetáculo liderado pela cantora Bruna Góes, ex-cover de Amy, revelada na edição de 2013 do programa ?The voice Brasil?. Os shows vêm na esteira do aniversário de cinco anos da morte da cantora inglesa, que se completam no dia 23.
? Eu fazia shows como cover em casas noturnas, em que o público ficava bem doido e reclamava que eu não bebia no palco. Hoje, no espetáculo, eu me sinto aliviada, não preciso imitar a Amy e tenho a liberdade de apresentar sua obra para o público. É um clima mais leve, as pessoas estão sentadas ? analisa Bruna Góes.
No dia 15, o Vivo Rio volta a receber um de seus espetáculos de maior sucesso, o ?Tributo ao rei do pop?, em que o paulistano Rodrigo Teaser, que por mais de uma década foi cover de Michael, recria, com coreografias e cenários, os principais momentos da carreira do americano. A noite conta com a participação especial de Lavelle Smith, bailarino e coreógrafo do astro.
? A ideia de fazer um espetáculo grandioso veio depois que eu vi o documentário sobre o Michael (?This is it?, de 2009). Passei dois anos produzindo tudo. Havia uma resistência grande das casas de shows, ouvi muita gente dizer que eu só faria o ?Tributo? uma vez ? conta Rodrigo, que hoje em dia faz uma média de três apresentações por mês do seu espetáculo.
All You Need Is Love | DVD Ao Vivo na InglaterraLogo em seguida, no dia 16, o Vivo Rio será palco do encontro entre o Grupo Cultural AfroReggae e a banda cover All You Need Is Love no espetáculo ?The Beatles: Beatles na favela?, que une a música do quarteto de Liverpool a circo e orquestra, nos moldes do que o Cirque du Soleil fez no célebre show ?Love?, que estreou em 2006.
? A gente tinha feito tudo o que podia dentro do universo dos Beatles. Em 2013, numa visita a Vigário Geral, vimos que dava para tentar algo mais lúdico com o AfroReggae. Você tem que se superar, não dá para ficar mais de três anos com o mesmo show ? recomenda o empresário e idealizador do All You Need Is Love, Carlos Branco. ? Hoje em dia, muitas casas de show preferem pagar R$ 30 mil para um show tributo, que vai dar bilheteria, do que assumir o risco de pagar R$ 100 mil pelo show de um artista consagrado. Beatles é um show para toda a família.
? O All You Need Is Love foi uma aposta da casa, hoje eles chegam a fazer dois shows por ano, sempre lotados. E o espetáculo de Michael Jackson do Rodrigo Teaser foi pelo mesmo caminho ? revela Bianca Labruna, diretora artística do Vivo Rio, casa que no dia 23 recebe ainda o Strange Days, de Los Angeles, grupo que toca as músicas (e tenta recriar a força cênica) dos Doors do vocalista Jim Morrison. ? Por causa desse sucesso do All You Need Is Love e do Rodrigo, os tributos começaram a bater à nossa porta. Só de shows de Amy foram cinco a nos procurar nos últimos dias.
Música brasileira à margem
Em seus quase três anos de funcionamento, o Teatro Bradesco foi a casa no Rio que mais recebeu shows-tributo de bandas cover. Vieram artistas argentinos (Geminis Bee Gees e God Save The Queen), italianos (Zen Garden U2) e, só neste ano, um punhado de espetáculos brasileiros que reviveram Ray Conniff, Whitney Houston e Abba (?Abba, the history?, competindo com um tributo argentino, ?Abba Mamma Mia?, que se apresentou no teatro no último dia 3).
? Percebemos, com o God Save The Queen, que havia um público cativo, a fim de ver shows cover e tributo a grandes bandas que não estão atuantes. E muitos deles têm alta qualidade de produção, com cachês que equivalem aos de grandes artistas da MPB. Mas quem vê uma vez um desses shows acaba voltando com amigos e família ? explica Noemia Matsumoto, diretora corporativa de programação artística da Opus Promoções, responsável pelo Teatro Bradesco e por outras sete casas espalhadas pelo Brasil.
E o ano promete. No dia 7 de setembro, o Bradesco recebe o Ummagumma ? The Brazilian Pink Floyd e, em 11 de outubro, volta a abrir as portas para ?The King is back?, no qual o inglês Ben Portsmouth faz aquele que é considerado o melhor show tributo a Elvis Presley do mundo.
Crítico musical, o jornalista Mauro Ferreira oferece uma explicação para a onda de simulações.
? O chamado grande público perdeu o link com a MPB, e isso favorece os shows de tributos, nos quais o que vale é tocar sucessos ? acusa. ? O mercado foi nivelado pela música mais popular, quase ninguém tem paciência para escutar canções inéditas. A música brasileira continua excelente, mas à margem do mercado.