Cotidiano

Convidados de acusação e defesa se divergem sobre falas de Dilma

BRASÍLIA- Das galerias do Senado, os dois lados que acompanham o depoimento da presidente afastada Dilma Rousseff fazem uma interpretação distinta do discurso da petista. Líderes dos movimentos em defesa do impeachment, que estão à direita de Dilma, minimizaram a fala da presidente em que ela associa os movimentos ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Já os aliados de Dilma, que estão à sua esquerda, não têm expectativa de que votos serão conquistados contra o impeachment, mas acreditam que o discurso da petista na sessão reforçou a existência de “golpe” num eventual afastamento definitivo.

Os dois lados foram convidados para o espaço nobre da galeria, de onde é possível acompanhar de cima o julgamento do impeachment. Os convidados da acusação são basicamente integrantes de movimentos que convocaram protestos a favor do impeachment. Entre eles está um herdeiro da família imperial, Luiz Phillipe de Orleans e Bragança. Já os convidados da defesa incluem ex-ministros, o ex-presidente Lula e o cantor e compositor Chico Buarque.

Para Rogério Chequer, líder do “Vem pra Rua”, Dilma não trouxe nenhuma informação nova ao processo de impeachment:

? Não acredito que a vinda dela vá mudar um fio de cabelo desse processo. Dilma não trouxe nenhum argumento novo. Ela trouxe aqui frases prontas. Não há por que os senadores mudarem de opinião ? disse.

Chequer não atribuiu qualquer importância à fala de Dilma que associou os movimentos pró-impeachment a Cunha. A petista mencionou a foto em que eles aparecem juntos, na ocasião do dia em que o pedido de impeachment foi protocolado na Câmara.

? Nós não tiramos foto com Cunha. Ela quer com isso tirar o protagonismo do impeachment, que nasceu nas ruas, e colocar de novo na conta de Cunha ? afirmou o líder do “Vem pra Rua”.

Do outro lado, a ex-ministra de Desenvolvimento Social do governo Dilma, Tereza Campello, afirmou que o discurso da petista tende a “calar fundo” nos senadores. Os petistas que acompanham a fala no Senado, porém, não esperam reversão de votos com a ida de Dilma ao plenário.

? A Nação está tendo a oportunidade de, pela primeira vez, ver as partes discutindo. Dilma mostra a capacidade fantástica que tem de discutir. As pessoas estão tendo a oportunidade de ver começo, meio e fim dos argumentos do impeachment ? disse Campello.

A ex-ministra disse que a presidente afastada está conseguindo provar que não há crime de responsabilidade:

? Mesmo sem crime, vai haver decisão de uma maioria. Se ela for tirada, será porque uma maioria se juntou e decidiu tirá-la, o que mostra a fragilidade da nossa democracia.