Toledo – Ninguém sabe melhor do que os empresários que o Brasil não é para amadores. Eles sobreviveram à recessão, com uma crise econômica e política difícil de ser vencida e deixada para trás, e mais recentemente acirrada pela greve dos caminhoneiros e os problemas gerados por ela sobretudo ao agronegócio, setor que movimenta a economia no oeste do Paraná.
A previsão inicial de economistas de que o crescimento no Brasil neste ano poderia beirar os 3% já foi vista, revista e rebaixada e hoje o cenário, ainda influenciado por fatores externos e internos, é observado com muita indecisão e cautela, com pés bem fincados no chão.
Em se tratando de comércio varejista, o que se vê neste momento é um verdadeiro malabarismo dos comerciantes para manter clientes dentro das lojas, estimulando o consumo consciente, dosando o crédito e escolhendo bem para quem vender.
Não que os clientes estejam “sobrando”, mas entre vender e não receber, a preferência tem sido por nem fechar negócio, pelo menos a mercadoria fica na loja e o comerciante não se descapitaliza correndo risco de também ficar negativado.
A empresária Eloísa Martins esperava que as vendas fossem reagir um pouco neste ano, ofereceu crediário próprio e hoje acumula mais de R$ 15 mil em vendas que ela não consegue receber. “Sou uma microempresária e esse dinheiro faz muita falta para repor mercadoria, capitalizar o negócio. As dívidas me deram menos fluxo de caixa e eu também posso ficar inadimplente. A partir de agora só venda a vista ou no cartão de crédito”, completou.
Para o vice-presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná), Claudenir Machado, já era esperado que o mercado não viveria grandes momentos em 2018 com a retomada lenta da economia e principalmente pelo período político instável com as eleições de outubro próximo. Assim, na soma de fatores, o setor está em alerta, mais uma vez.
O segmento nem fala em crescimentos expressivos e a aposta é em apenas manter as vendas nos patamares de 2017 e olha que o ano passado não foi nada bom.
O que se sabe é que vai precisar de muito jogo de cintura e saber mesclar uma série de fatores.
Apesar de ainda estar no meio do ano, este é o momento em que as associações comerciais começam a programar suas campanhas já de olho no Natal, o melhor momento para o comércio.
Se em 2017 as associações comerciais da região apostaram timidamente nos atrativos em sorteios de Natal, neste ano a recomendação e a tendência são de fazer o caminho inverso. “O que temos percebido em contato com as associações comerciais é que há disposição para fazer diferente, investir mais neste ano justamente para atrair os clientes e reestimular as vendas”, destacou.
É nisso que aposta, por exemplo, a Acit (Associação Comercial e Empresarial de Toledo). Em negociação com a prefeitura ficou acordado que neste Natal haverá mais investimentos públicos para a decoração. “Quer queira quer não queira, isso estimula, cria uma atmosfera natalina e de fim de ano e acaba trazendo os clientes para as ruas e consequentemente para as lojas. O que deve ocorrer então é um contra-ataque à crise”, reforçou.
Esta será uma alternativa que promete se alastrar por toda a região e tentar salvar o segundo semestre das vendas.
Frio e Copa do Mundo contribuem
Enquanto o setor se programa para o Natal, o frio no período certo está contribuindo para as vendas após dois invernos com estoques emperrados. “No comércio, notamos que, se o frio chega muito cedo ou muito tarde, a tendência é de as vendas não ocorrerem porque os consumidores não compram achando que ele vai embora logo. Quando ocorre como neste ano, o frio no tempo certo, a expectativa é de acréscimo nas comercializações. Este momento ao menos está bom”, avalia o vice-presidente da Faciap, Claudenir Machado.
Para o vice-presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Cascavel e Região Oeste do Paraná), Leopoldo Furlan, o fluxo maior de pessoas nos setores de vestuário e de calçados pode ser estendido a outros segmentos, como o de bares e restaurantes. “Se as vendas de roupas e calçados aumentaram um pouco, o setor de alimentação também deve se beneficiar disso por conta da Copa do Mundo de futebol, com mais movimento, principalmente em dias de jogos do Brasil. Apesar disso, nossas expectativas de reação e retomada da economia não são boas diante do cenário que vivemos, principalmente depois da greve [dos caminhoneiros] e o que isso acarretou à economia”, considerou.
Entre as preocupações do comerciante, quanto às vendas de fim de ano, é se o comerciante terá dinheiro no bolso para gastar e se terá o nome limpo para comprar a prazo. “Isso vai determinar aumento ou não nas vendas”, antecipa.
Quanto à liberação de saques do PIS/Pasep anunciada pelo governo federal nessa semana para os trabalhadores que tiveram carteira assinada antes de 1988, a expectativa é para que o dinheiro que chegará à região seja usado para quitar dívidas. “Sempre que um dinheiro assim é liberado, a experiência nos mostra que é usado para pagar dívidas, o que não é ruim, pois é um dinheiro que também vai para o comércio”, completou Claudenir Machado.
Bons momentos de 2018
Mas nem só de desempenhos ruins tem sido marcado o comércio no Paraná este ano.
Uma pesquisa divulgada nesta semana revelou que o varejo acumulou alta de 6,34% de janeiro a abril. O acirramento que o setor enfrenta veio a partir do fim do mês de maio.
Os dados da pesquisa com dados positivos ao setor são da Fecomércio PR (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná). Apesar da queda de 6,13% na comparação com março, as vendas em abril foram 8,48% em relação ao mês de abril de 2017.
Na região oeste, as transações em destaque naquele mês foram as de veículos com crescimento de 116,41%, em comparação com igual mês de 2017.
O varejo da região apresentou crescimento de 20% no acumulado do ano (janeiro a abril). A região também teve o melhor desempenho na análise interanual, com aumento de 25,22% nas vendas de abril deste ano ante o mesmo mês de 2017. Os bons resultados derivam do movimento adicional nos setores de concessionárias de veículos, materiais de construção e calçados.