Cotidiano

Carboidrato: ruim com ele, pior sem ele

Para muitos, ele é um vilão que precisa ficar o mais longe possível do prato. Para outros, uma delícia irresistível. Se o seu objetivo é ter uma alimentação saudável, saiba que nenhum dos dois cenários é bom para sua qualidade de vida.

É isso o que indica recente estudo realizado por médicos cardiovasculares do hospital Brigham and Women’s, em Boston (Massachusetts), nos Estados Unidos, publicado no periódico científico Lancet.

Segundo os pesquisadores, dietas pobres (menos de 40%) e ricas (mais de 70%) em carboidrato – ou seja, low e high carb, respectivamente – estão atreladas a um risco maior de mortalidade. A melhor opção, na verdade, é ingerir uma quantidade moderada desses alimentos.

"Dietas de baixo teor de carboidrato que substituem esses alimentos por proteína ou gordura estão ganhando popularidade como estratégia de saúde e perda de peso", afirma Sara Seidelmann, cardiologista do hospital Brigham and Women's e autora do estudo. Mas, segundo Seidelmann, nem todas as dietas de baixo consumo de carboidrato podem ser colocadas em uma mesma categoria.

Normalmente, pessoas que pretendem diminuir a quantidade de carboidrato da alimentação optam por ingerir mais proteínas e gorduras, que podem ser oriundas de fonte animal ou vegetal.

De acordo com os médicos do estudo, aqueles que optam por proteínas e gorduras de fonte animal – cordeiro, frango, bife, manteiga e queijo – apresentam um risco de mortalidade maior do que aqueles que escolhem alimentos de fontes vegetais, como abacate, legumes e nozes.

“Nossos dados sugerem que dietas de baixo carboidrato baseadas em fonte animal que são prevalentes na América do Norte e da Europa podem estar associadas a uma menor expectativa de vida e não devem ser encorajadas. Em vez disso, se alguém optar por seguir uma dieta com pouco carboidrato e trocá-lo por mais gorduras e proteínas à base de plantas, isso pode promover um envelhecimento saudável a longo prazo”, relata Seidelmann, que também é nutricionista.

Método do estudo

Testes com o objetivo de comparar as dietas low-carb e high-carb não são muito simples, uma vez que eles devem ser realizados ao longo de muitos anos e não é fácil encontrar pessoas que queiram seguir essas dietas por muito tempo.

Portanto, ao em vez disso, Seidelmann e seus colegas optaram por um estudo observacional com mais de 15.400 indivíduos com idades entre 45 e 64 de diversas origens socioeconômicas dos EUA pertencentes a quatro das comunidades no país consideradas de risco para o surgimento de aterosclerose (acúmulo de gorduras e colesterol nas artérias).

Cada um dos participantes preencheu um questionário informando seus padrões alimentares. Seis anos depois, foram convidados a completar o formulário novamente.

Após a coleta dos dados de cada participante, os pesquisadores agruparam os dados obtidos com outros sete estudos observacionais realizados em todo o mundo envolvendo de mais de 430 mil pessoas.

Como resultado, perceberam que indivíduos de 50 anos que possuíam uma dieta moderada – contabilizando metade de sua energia proveniente de carboidratos – tinham uma expectativa de vida de 33 anos, ou seja, quatro anos mais do que pessoas que apostavam em dietas com pouco carboidrato e um ano a mais do que quem exagerava nos carboidratos.

Segundo recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e de outros órgãos de saúde de todo o mundo, a ingestão de carboidratos é fundamental para o fornecimento de cerca de metade das nossas necessidades diárias de calorias.

 

Mais vegetal, menos animal

Os autores do estudo não conseguiram provar a causa e o efeito devido à natureza da pesquisa. No entanto, afirmaram que as pessoas que adotam dietas do tipo ocidental – com maior restrição de carboidratos – geralmente ingerem menos vegetais, frutas e grãos e mais proteínas e gorduras animais.

Uma razão plausível é que alguns desses produtos de origem animal aparecem associados à estimulação de vias inflamatórias, ao envelhecimento biológico e ao estresse oxidativo, casos que podem contribuir para o aumento do risco de mortalidade.

“Muito e quase nada de carboidrato podem ser prejudicial, mas o que mais conta é o tipo de gordura, proteína e carboidrato ingerido”, disse Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard e coautor do estudo.

Em síntese, as dietas de baixa ingestão de carboidrato são populares para perda de peso, porque elas funcionam muito bem a curto prazo, e geralmente estão atreladas a um alto consumo de proteína animal.