SÃO PAULO. O pecuarista José Carlos Bumlai vai admitir à Polícia Federal (PF) que fez reformas no sítio de Atibaia a pedido da ex-primeira dama Marisa Letícia, mas vai dizer que a reforma da propriedade seria uma surpresa ao ex-presidente Lula e que, na ocasião, soube apenas que o sítio havia sido comprado por Fernando Bittar, amigo da família. O depoimento será na sede da PF em São Paulo. Segundo as investigações, a Usina São Fernando, da família Bumlai, fez pagamentos a uma das empresas que atuou na reforma do sítio, depois assumida pelas contrutoras Odebrecht e OAS.
Bumlai vai dizer que, quando se dispôs a ajudar, a reforma era apenas “um puxadinho” da casa principal e que enviou pessoas que estavam fazendo obras na Usina São Fernando. Como a obra não andou rápido, dona Marisa teria dispensado os trabalhadores enviados pelo pecuarista e buscado ajuda de profissionais.
Segundo as investigações, depois que os indicados por Bumlai deixaram o sítio, a obra teria sido assumida pela construtora Odebrecht. A OAS também fez parte da reforma, como contenção no lago e reforma da cozinha, com instalação de móveis planejados. A Lava-Jato investiga se o sítio de Atibaia pertence ao ex-presidente Lula e a propriedade estaria sendo ocultada, já que está em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna Filho. A defesa de Lula afirma que Bittar e Jonas já provaram que são os donos e que pagaram pelas reformas. Marisa Letícia tinha depoimento agendado para esta terça-feira, mas não compareceu e alegou direito ao silêncio.
Por determinação do juiz Sérgio Moro, Bumlai deve retornar à prisão no próximo dia 23, depois de ficar cerca de cinco meses em prisão domiciliar para tratamento de um câncer de bexiga. Ao decretar a prisão, o juiz considerou que o tratamento do câncer e o acompanhamento cardíaco – Bumlai foi submetido a cirurgia cardíaca neste período – podem ser feitos na prisão e considerou como fato novo o pecuarista ter se transformado em réu num processo que investiga obstrução de Justiça – o mesmo que levou o ex-senador Delcídio do Amaral à prisão, por tentativa de comprar o silêncio e facilitar possível fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
A defesa de Bumlai entrou com Habeas Corpus (HC) no Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a decisão. Argumentou que nenhum dos envolvidos na suposta obstrução de Justiça envolvendo Cerveró está preso e que Bumlai tem colaborado com a Justiça. O pecuarista confessou ter retirado um empréstimo no Banco Schahin para o PT, que acabou sendo pago com um contrato firmado pelo grupo com a Petrobras. Segundo os advogados, Bumlai foi um “trouxa” usado pelo PT, já que não se beneficiou com dinheiro do empréstimo e apenas emprestou seu nome para a retirada do empréstimo.
“Bumlai não tem passaporte estrangeiro, não movimenta contas em paraísos fiscais, não destruiu provas, não tentou fugir, não coagiu testemunhas e não deu
nenhum indicativo de que poderia obstruir as investigações ou a instrução criminal. Aliás, de 2009 para cá ? data do último fato supostamente criminoso a ele imputado ? não praticou nenhuma conduta que pudesse ser classificada de delituosa”, afirma a defesa no HC, acrescentando que ele tem 71 anos e é réu primário.;
Ao determinar a prisão, Moro afirmou que Bumlai pode recorrer a novos “expedientes fraudulentos” para ocultar a realidade dos fatos. Para a defesa, trata-se de uma antecipação de culpa e seu cliente não deve ser preso apenas porque a sociedade “precisa reconhecer a forte atuação do Judiciário do combate à corrupção”.