SÃO PAULO Enquanto homens gostariam de ter mais de oito relações sexuais por semana e consideram seu maior temor o risco de não satisfazer a parceira, elas querem sexo três vezes na semana e colocam, na lista de prioridades, a qualidade do sono antes da satisfação na vida sexual. Estas diferenças entre os gêneros são alguns dos destaques da pesquisa Mosaico 2.0, divulgada nesta quinta-feira. Trata-se da nova versão do Mosaico Brasil, de 2008, maior levantamento sobre comportamento sexual no país.
O levantamento, que ouviu 3 mil participantes entre 18 e 70 anos e traça um perfil do comportamento afetivo-sexual do brasileiro, foi conduzido pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Embora muita coisa tenha mudado e tenhamos a impressão de que hoje é mais natural falar sobre sexo, a sociedade ainda aborda essa temática com certa vulgaridade comenta Carmita, que também coordenou o estudo de 2008. Muitas mulheres temem julgamentos relacionados a certos comportamentos sexuais, o que acaba fazendo com que limitem o próprio prazer. Não é tão fácil, nem tão rápido, se libertar de padrões anteriormente impostos.
A pesquisa revela, por exemplo, que o maior temor dos homens é não satisfazer a parceira (citado por 54,8% deles); seguido por pegar uma Doença Sexualmente Transmissível (48%); perder a ereção (46,9%) e ejacular muito rápido (42%). A gravidez aparece apenas em sétimo lugar. Já entre as mulheres, os maiores receios são, nesta ordem: pegar uma DST (45,9%); não satisfazer o parceiro (40,7%) e medo de engravidar (35,2%).
A vida sexual aparece em quarto lugar como fator importante para as mulheres, com 48,2% de citações. Fica atrás de convivência familiar (76,1%), alimentação saudável (73,8%) e qualidade do sono (65,4%). No entanto, houve grande evolução desde 2008, quando do estudo anterior: naquela época, a vida sexual era apenas o oitavo fator mais importante no cotidiano para as mulheres.
Para os homens, a satisfação com o sexo ocupa o terceiro lugar de fatores que contribuem para a qualidade de vida, com 69,4% das citações. Só está atrás de tempo de convivência com a família (78,8%) e alimentação saudável (70,1%). Na faixa etária dos 18 aos 25 anos, mais próxima do início dos relacionamentos sexuais, a vida sexual satisfatória aparece em quinto lugar, atrás de aspectos como convivência social e exercícios físicos.
ELES FAZEM MAIS 'SÓ POR ATRAÇÃO'
Outro dado que mostrou o quanto o entendimento sobre sexo é diferente de acordo com o gênero é a motivação para ter uma relação sexual. Segundo o estudo, 43,7% dos homens disseram que com certeza fazem sexo só por atração, contra 22,2% das mulheres.
Foram avaliados indivíduos de sete regiões metropolitanas do país: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal. As capitais onde a vida sexual satisfatória é mais valorizada como fator de qualidade de vida são Salvador (o terceiro fator mais citado, com 62,8%) e Distrito Federal (também terceiro fator mais citado, com 60,3%).
DIFICULDADES NA HORA 'H'
A maior dificuldade sexual apontada pelos homens foi controlar a ejaculação, problema relatado por 45,1% deles. Em segundo lugar, vem a dificuldade de ter e manter uma ereção (32,4%), e, em terceiro, o baixo desejo sexual (30,9%).
Já entre as mulheres, 43% das entrevistadas (especialmente as mais jovens) apresentam alguma dificuldade para atingir o orgasmo, de leve à grave. As outras maiores dificuldades é que elas apresentam dor no ato sexual (40,3%), e sentem dificuldade em ter interesse por sexo, especialmente se estão na faixa dos 26 aos 40 anos (32,5%).
Enquanto as mulheres tendem a ter duas relações por semana; os homens tendem a ter três. A resposta mais escolhida pelas mulheres para representar sua expectativa de frequência sexual ideal é três vezes por semana, com 16,7%, e a resposta mais escolhida pelos homens é mais de oito vezes, com 26,8%. Em geral, a expectativa média é de quatro relações por semana para as mulheres e de seis para os homens.
Em média, os entrevistados tiveram cerca de três parceiros sexuais importantes na vida. Nos últimos 12 meses, o número de parceiros foi de dois para os homens, e um para mulheres, em média.
Na divisão por sexo, homens iniciaram a vida sexual aos 16,9 anos, em média, ante 18,4 para as mulheres. A primeira relação se deu com 17,7 anos, em média. Entre as capitais, destaca-se São Paulo, única capital em que a idade média de início da vida sexual é após a maioridade, com uma média de 18,1 anos.
Um aspecto é consenso: mais de 90% dos homens e das mulheres dizem que o sexo é importante para a harmonia do casal. No entanto, a faixa etária que mais respondeu que sexo é “pouco ou nada” importante para a harmonia do casal foi a mais jovem, de 18 a 25 anos 7,2% deram essa reposta, porcentagem que cai para 2,1% na faixa etária de 41 a 50 anos.
POUCA CAMISINHA EM SP
A porcentagem dos que nunca usam camisinha na cidade de São Paulo chama atenção: 40,6% de todos os entrevistados diz não usar, um índice bem acima da média, além de ser a maior média entre as capitais estudadas.
De acordo com a pesquisa, o uso da camisinha diminui com o aumento da idade. Se a porcentagem dos que usam sempre esse contracepstivo é de 36,2% na faixa dos 18 aos 25 anos, esse índice cai gradativamente até chegar aos 10,5% na faixa que vai dos 60 aos 70 anos de idade.