RIO – Apesar do aumento do protecionismo, a política comercial do governo Trump pode em última instância favorecer o Brasil, segundo alguns analistas. A decisão de sair da Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) é um fator, mas o país também pode ser beneficiado por um possível acordo bilateral, segundo o professor da American University, Aluisio de Lima-Campos, também presidente do ABCI Institute (que reúne especialistas sobre Brasil).
? O que já se pode esperar da política comercial de Trump é péssimo em termos de benefícios para o livre comércio, mas em termos de Brasil não é. O fato de Trump ter renunciado ao TPP é excelente. Se há desejo de acordo bilateral com os EUA, este é o momento. Teremos mais sucesso que teríamos há um, dois anos ? afirmou Lima-Campos nesta quinta-feira, ao participar do seminário ?A nova política comercial de Trump?, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na sede da Firjan.
Na sua avaliação, a saída dos EUA do maior acordo comercial do mundo ajuda a manter a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano. Se o TPP seguisse adiante, os demais integrantes do bloco teriam vantagens no mercado americano. Além disso, Lima-Campos citou que há aversão de Trump aos acordos regionais, mas o novo presidente demonstrou interesse nas parcerias bilaterais.
Professor da Universidade de Columbia, Marcos Troyjo vê com mais cautela a questão e considera que há dificuldades:
? O apetite para negociar um acordo bilateral com o Brasil não é tão grande. E mesmo que ocorra um acordo Brasil-EUA, nossas dificuldades existem, como é o caso de competitividade.
?BRASIL PRECISA SABER O QUE QUER?
O embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, do Cebri, lembrou que as oportunidades dependem também de o país definir o que pretende de suas relações com os Estados Unidos:
? Essas medidas econômicas (…) é preciso que o Brasil saiba o que quer. E o Brasil sempre teve dificuldade de saber o que quer dos Estados Unidos. Se quer uma aproximação maior, se quer distanciamento. Em que setores quer aproximação, em quais não quer. É preciso que nós façamos esse esforço. Tenho certeza que o ministro Serra e toda a equipe do Itamaraty estarão trabalhando nessa ideia.
COMÉRCIO COMO JOGO DE FUTEBOL
Conselheiro do Cebri, o embaixador Roberto Abdenur mostrou preocupação com ?a atitude grosseiramente protecionista? do presidente Trump e ressaltou que ele não vê ganhos com o comércio exterior:
? Trump vê a balança comercial como um jogo de soma zero, não entende que os dois lados ganhos. Ele tende a ver o déficit comercial como uma partida de futebol. O déficit com a China é de US$ 320 bilhões, com o México é de US$ 60 bilhões. Vê esses valores só como perda de empregos para os EUA.