Cotidiano

As principais propostas de Donald Trump durante a corrida nos EUA

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RIO – Durante a campanha presidencial dos EUA, acompanhou-se, além das polêmicas, a série de propostas de Donald Trump em contraponto às dos democratas ? e de Hillary Clinton. De economia e política externa a saúde e sociedade, ele acabou marcado por proposições consideradas populistas, e com perspectivas ainda incertas. TRUMP CONTEÚDO

Saúde. O acesso a planos de saúde a preços regulados, promovido pela lei conhecida como Obamacare, chegou a uma marca histórica de 90%. Mas milhões ainda não têm assistência, e os gastos federais e os preços dos seguros de saúde estão subindo, enquanto há reclamações em diferentes áreas sobre a falta de qualidade e de abrangência dos serviços prestados. Dezenas de milhões de americanos que estão envelhecendo e estão inscritos no programa serão os fiéis da balança.

Trump discorda totalmente do plano, chamando-o de desastre, mas pretende manter o programa federal de apoio a idosos e negociações com as empresas farmacêuticas. Não tem qualquer plano concreto na mesma linha, defendendo o fim do programa.

Papel militar dos EUA no mundo. Milhares de soldados morreram nas guerras no Afeganistão e no Iraque. O país ainda vive o desafio de dar fim definitivo à sua participação nos dois conflitos, enquanto vê o Oriente Médio instável, em meio a confrontos internos e a ameaça do terrorismo. Há ainda impasses com Rússia, Irã e Coreia do Norte, além da instabilidade na Líbia. A figura da Otan, responsável pela defesa militar do Ocidente, se desgastou no processo. A cooperação militar sofre ainda com o antagonismo russo e seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.

Trump defende a política de ?os EUA primeiro?, cobrando dos aliados na Europa e na Ásia pagamento completo da contribuição militar do país à defesa deles. Segundo ele, as nações devem ser ?menos dependentes do Exército americano?.

Questão racial. O policiamento nos EUA está sob atenção mundial após a série de mortes de homens e jovens negros por guardas flagrados em vídeo. A percepção de impunidade e a suspeita de racismo deu maior voz a reivindicações de grupos civis, como o Black Lives Matter, protestos violentos e até ataques e emboscadas a agentes. A tensão racial fez o presidente Obama entrar na discussão, com medidas para diminuir a desconfiança mútua e aumentar a transparência na atuação dos policiais.

Trump defende a ?lei e a ordem?, afirmando que os policiais estão sob condições muito difíceis. É a favor da universalização do controverso método nova-iorquino ?stop and frisk?, no qual qualquer potencial suspeito podia ser parado e revistado por agentes.

Estado Islâmico. A ameaça do grupo terrorista, que cresceu com base no vazio de poder deixado pela Guerra no Iraque, tem os EUA como um dos alvos principais. Com o enfraquecimento territorial dos extremistas em Síria, Iraque e agora a Líbia, atentados suicidas e à bomba se tornaram ainda mais visados pelo grupo.

Trump propõe bombardear áreas sob controle do grupo, sem detalhar a logística. Diz ter um plano secreto. Seu diferencial é defender técnicas pesadas de interrogatório, muitas das quais consideradas torturas.

Controle de armas. O direito a portar armas é parte fundamental da cultura americana, previsto na Segunda Emenda da Constituição. Mas o número cada vez maior de massacres e incidentes com pistolas, rifles e fuzis fizeram o governo Obama aumentar a pressão para instituir limitações específicas ao acesso a armas. O tema divide radicalmente os candidatos e os eleitores.

Trump rejeita veementemente as zonas livres de armamento e propõe que os estados permitam o uso de armas escondidas por civis. Não prevê qualquer limitação ao acesso a armas, considerando-as importantes para evitar ataques a tiros em locais públicos.

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Comércio e China. A gestão atual do comércio exterior tem sido bastante criticado pelos eleitores. Com a China assumindo um papel cada vez maior na economia global (também subsidiando exportações e manipulando a própria moeda), os EUA têm perdido espaço também nos mercados e na empregabilidade pela burocracia e os custos. E pactos de livre comércio como o Acordo Transpacífico (TPP) podem levar a perdas nos empregos dentro do país, advertem analistas.

Trump opõe-se ao Acordo Transpacífico (TPP) e ao Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (Nafta), considerando que o país foi derrotado por negociadores estrangeiros. Propõe aumentar significativamente tarifas à importação de produtos chineses.

Empregos. O desemprego formal vive nível baixo, de apenas 4,9%. No entanto, as ofertas de emprego qualificado em setores-chave na economia têm sido escassas desde a recessão que teve seu auge em 2008. Com índices pouco favoráveis à nova geração de jovens entrando no mercado de trabalho, cresce o número de pessoas que deixam de procurar vagas no setor formal ou que requerem benefícios por invalidez. Os candidatos montaram planos elaborados sobre o tema.

Trump propõe reduzir regulações e impostos para encorajar os negócios a aumentarem de tamanho e, consequentemente, contratarem mais. Propõe abolir acordos de livre comércio e endurecer o comércio com a China para retomar empregos na indústria de manufatura.

Salário mínimo. Greves de funcionários de setores com salários baixos, crescimento de renda escasso e o aumento de empregos pouco remunerados colocaram o salário mínimo como tema crucial. Atualmente a US$ 7,25 a hora, o aumento dos soldos a pelo menos US$ 12 ajudaria ao menos 35 milhões de pessoas (25% da força laboral), mas acarretaria custos maiores a empregadores e poderia desacelerar contratações, advertem economistas. Ambos os candidatos querem avançar na discussão.

Trump defende o aumento para US$ 10, advertindo para o peso que um aumento significativo teria sobre os empregadores. Propõe que os estados decidam.

Acordo nuclear com o Irã. Um dos temas de política externa mais controversos dos últimos anos, o acordo que reduziu a capacidade do programa nuclear iraniano causa divergências. A maior parte dos democratas acredita que o pacto foi benéfico por limitar o acesso a componentes atômicos, em troca da liberação de fundos congelados por sanções. Os republicanos afirmam, por sua vez, que o acordo não dá garantias concretas de que o Irã cesse hostilidades contra vizinhos e que o país ainda recupera fundos para ameaçar a existência de Israel, maior aliado local dos EUA.

Trump critica duramente o acordo, que chama de ?estúpido?. Ao contrário de outros republicanos, no entanto, quer renegociá-lo para dificultar as condições para Teerã e não abrir mão de sanções econômicas antes impostas.

Relação com a Rússia. Principal antagonista dos EUA, o país vive um clima de nova Guerra Fria inédito desde o fim da União Soviética. O país tem intensificado sua presença militar no Mar Báltico, na Ucrânia e na Síria, desafiando abertamente o Ocidente, e tem um arsenal de armas nucleares. Até mesmo ataques hacker têm sido atribuídos ao Kremlin. O problema que os EUA vivem, além da ameaça velada do governo de Vladimir Putin, é a necessidade de cooperação com Moscou em temas globais como a guerra síria.

Trump vai na contramão da política atual, defendendo a reaproximação com a Rússia. Elogia Putin, considerando-o um líder firme, ?ao contrário de Obama?. Não apresentou um plano diplomático.

Mudanças climáticas. O aquecimento global é uma realidade em curso e criada pelo homem, garantem cientistas. Nos últimos dois anos, as temperaturas globais bateram recordes, e hoje estão 2 graus acima de um século atrás. As graves implicações ecológicas, ambientais e econômicas preocupam autoridades mundiais, assim como dos EUA ? maior poluidor mundial, junto à China.

Trump discorda fundamentalmente do conceito de aquecimento global, que chama de ?falácia?. Defende a expansão da indústria do carvão, combalida com o atual aumento da indústria de energia solar.

Aborto. Tema polêmico, o aborto divide radicalmente conservadores e progressistas. Enquanto os democratas são a favor da manutenção de programas que permitam a interrupção da gravidez em casos específicos, os republicanos defendem a derrubada judicial desta possibilidade, além de limitar o acesso a clínicas especializadas em reprodução. A vitória de cada um impactaria na escolha de um novo juiz para a Suprema Corte, que muito provavelmente reforçaria a posição política do(a) presidente.

Trump, apesar de ter sido a favor do aborto, anos atrás, diz que é contra. Reforçou a posição com a escolha de seu vice, Mike Pence. Se eleito, escolheria um juiz conservador para a Suprema Corte para tentar reverter decisões e reforçar proibições estaduais.

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Imigração e refugiados. Tema de grande impacto na campanha presidencial. Hoje, após bilhões de dólares gastos com barreiras na fronteira, há mais mexicanos deixando os EUA do que entrando. Apesar de a discussão no Congresso se restringir principalmente a se deveria haver anistia aos imigrantes sem documentos, a campanha eleitoral foi mais agressiva sobre o tema, que ganhou ainda um novo fator: a chegada de refugiados sírios.

Trump acusa os imigrantes ilegais mexicanos de trazerem doenças e cometerem crimes. Propõe um muro na fronteira, pago pelo México. Defendeu deportar todos os ilegais, mas hoje afirma que expulsaria apenas aqueles com histórico criminal. Já propôs banir a entrada de muçulmanos, mas passou a defender uma verificação completa de antecedentes e até um teste ideológico e religioso a quem vem de países afetados pelo terrorismo fundamentalista.

Mulheres no mercado de trabalho. Uma das questões mais criticadas por muitos cidadãos americanos é como as mulheres ganham menos do que os homens: pesquisas independentes estimam que elas ganhem até 88% do que eles recebem. Apesar de ilegal, a prática existe, mesmo tendo diminuído. Atualmente, os custos com creche e tratamento infantil crescem drasticamente, com estatísticas mostrando que as mães (grande parte no mercado de trabalho) têm que arcar com a situação e sem ter direito a licença-maternidade paga.

Trump não vê disparidade no pagamento às mulheres. Defende que pais e mães possam deduzir os gastos com creche e tratamento de saúde para seus filhos.

Regulação de Wall Street. Considerado um dos maiores culpados pela crise de 2008, o sistema financeiro é apontado como o principal responsável por ditar os rumos da economia americana. Sob discretas regulações, os bancos e empresas investidoras de Wall Street movimentam trilhões e se envolvem nos mercados de hipotecas, fator que expulsou 5 milhões de famílias de casa durante a recessão. Na mesma crise, quando muitos bancos ficaram à beira da implosão, um pacote econômico multibilionário reergueu o sistema. Isto exacerbou frustrações populares com o poder dos financistas.

Trump propõe que as regulações sejam diminuídas, porque aumentam custos e diminuem o crescimento. Para ele, o Federal Reserve (Banco Central do país) deve ter menos poder, com o Congresso sendo mais ativo na fiscalização das políticas dos bancos.