RIO – No dia em que completa 85 anos, nesta sexta-feira, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1984, publicou um artigo no jornal americano “Washington Post” defendendo o direito à morte assistida. No texto, o líder católico também afirma que, quando a sua hora chegar, ele espera “ser tratado com compaixão e ter permissão para passar à próxima fase da jornada da vida da maneira como ele escolher”.
Tutu começa o artigo dizendo que ao longo de sua vida, ele teve sorte de trabalhar pela “dignidade dos vivos”, atuando em campanhas nacionais e internacionais em prol dos direitos divinos desses seres. Em seguida, o arcebispo emérito da Cidade do Cabo, na África do Sul, afirma que, agora, enquanto ele completa 85 anos, com a sua vida perto de um fim, quer ajudar a garantir às pessoas “dignidade na morte”. “Assim como eu argumentei firmemente pela compaixão e igualdade em vida, acredito que pessoas com doenças terminais devem ser tratadas com a mesma compaixão e igualdade quando se trata de suas mortes”.
No mês passado, o sul-africano, ícone da luta contra o antigo sistema de segregação racial conhecido como Apartheid, foi internado para tratar de infecções recorrentes. Não há uma legislação em seu país sobre o assunto, mas, no ano passado, uma corte de Justiça conferiu o direito de morrer a um homem com uma doença terminal.
Não é a primeira vez que o religioso escreve sobre o tema. Ao longo de sua vida, Tutu criticou o conceito de morte assistida, mas, há dois ans, ele publicou no jornal britânico “The Guardian” um artigo anunciando que estava mudando de opinião, passando a defender o direito de uma pessoa, à beira da morte, escolher de que forma quer morrer. Naquela ocasião, porém, o arcebispo se esquivou de afirmar se ele próprio gostaria de ter a opção, escrevendo apenas que “não me importaria”.
No texto desta sexta-feira, Tutu revê a posição a respeito da sua escolha pessoal. “Hoje, eu mesmo estou mais perto da área de embarque do que de chegada, por assim dizer, e meus pensamentos se viram para como eu gostarua de ser tratado quando a hora chegar. Agora mais do que nunca, me sinto compelido a emprestar minha voz para essa causa”.
O sul-africano diz que acredita na santidade da vida e que sabe que a morte é uma parte da vida. Ele afirma que as pessoas com doenças terminais têm controle sobre suas vidas, “então, por que elas não podem ter controle sobre suas mortes? Por que tantas pessoas, em vez disso, são forçadas a tolerar dores insuportáveis e sofrimento contra sua vontade?”.