Agronegócio

Sete em cada dez peixes são do oeste

Não por acaso, o que era uma vocação, muitas vezes até gerando questionamentos sobre sua implantação, transformou-se em um importante polo de geração de conhecimento acadêmico na região oeste do Paraná ainda na década de 1990. A primeira turma de um dos raros cursos de Engenharia de Pesca no País – eram cinco no total contando com o implantado em 1997 na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) – surgiu para um marco histórico à pecuária neste segmento.

Desde então, o aprimoramento tem saído dos bancos acadêmicos e fomentado um setor da indústria em plena expansão e que não para de crescer.

Com alto valor agregado, a piscicultura tem sido um dos importantes setores à consolidação da agropecuária no oeste do Paraná.

Para se ter ideia, dos 48 municípios cobertos pelos Núcleos Regionais da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Toledo e de Cascavel, não há um único deles que não tenha os pescados, sobretudo tilápias, em seu VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária).

Somente os dez maiores produtores regionais tiveram uma produção de 50 mil toneladas e R$ 224 milhões em faturamento. E de onde vem isso tudo? Da vocação.

O caminho para a sustentabilidade

Saudável, responsável por uma simbologia às religiões cristãs, não por acaso o peixe aparece fortemente nesta semana na vida de milhões de brasileiros como uma alternativa à carne vermelha em abstenção e penitência. É justamente na Semana Santa que o consumo dispara e, neste ano, distribuidores, frigoríficos, supermercados e produtores apostam alto, em um aumento de 50% no consumo.

Ocorre que consumir esse alimento não tem se limitado às regras religiosas e ele tem aparecido cada vez mais no prato de cada dia. Há municípios que já introduziram os peixes ao cardápio da merenda escolar e este mercado em plena expansão, cercado pela geração de emprego e renda, encontrou na região oeste do Paraná seu principal berço produtor do Estado.

Dados do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná.) indicam que sete em cada dez quilos produzidos no Paraná vêm da região.

O agrônomo analista técnico da Gerencia Técnica e Econômica do Sistema Ocepar, Maiko Zanella, destaca que isso é resultado de um importante perfil cada vez mais voltado à pecuária e se consolida ao lado das aves e dos suínos, além da bacia leiteira.

Não por acaso, pelo menos duas grandes cooperativas investiram pesado em frigoríficos para o abate de peixes.

O mais recente foi na C.Vale, em Palotina, que destinou R$ 110 milhões, com financiamentos, em tempo recorde de nove meses para a construção do abatedouro que começou a operar em 2017. “A região responde por 69% da produção estadual o que representa 55,5 mil toneladas. Em torno de 96% são tilápias e isso se deve à vocação: clima, solo e água no oeste”, destacou.

A meta do frigorífico recém-inaugurado é chegar a 60 mil toneladas por dia de abate.

Em Cafelândia, a Copacol também voltou seus olhos a este mercado e não é de hoje. Há anos esta vocação vem sendo intensificada e fechou em 2017 com 31,7 milhões de toneladas de peixes abatidos.

Os peixes no VBP

Considerando a produção regional somente de tilápias, a participação delas no VBP (Valor Bruto da Produção) Agropecuária ultrapassa os R$ 250 milhões. Em um contingente regional de R$ 19 bilhões pode parecer pouco, mas este é um dos setores da pecuária que mais tem crescido em níveis percentuais. Para a Seab, a justificativa está em um mercado em expansão, fomentado pelos novos investimentos no setor como os frigoríficos já mencionados.

Segundo o VBP de 2017, que teve como base o ano de 2016, a maior produtor a de tilápias da região foi a cidade de Nova Aurora. Por lá foram para o abate naquele ano 8,67 mil toneladas resultando em R$ 39 milhões em beneficiamento. Em segundo lugar estava Maripá com 7,22 mil toneladas abatidas e quase R$ 32,5 milhões em faturamento. Ambos os municípios integram o núcleo regional da Seab de Cascavel. A terceira colocada neste ranking é Assis Chateaubriand com 7 mil toneladas abatidas e R$ 31,5 milhões e faturamento. A partir daí até a décima maior produtora regional são todos municípios cobertos pelo núcleo de Toledo. Entre os destaques ainda desta lista está o pequeno município de Nova Santa Rosa, com apenas 8 mil habitantes. Por lá foram abatidos em 2016 4 mil toneladas de tilápias que resultaram em um faturamento de R$ 18 milhões. Ela ocupa a sexta posição neste ranking regional. Assim, a piscicultura tem sido um marco às pequenas propriedades do oeste.