Genebra – A cientista-chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Soumya Swaminathan, afirmou nessa segunda-feira (31) que o uso emergencial de vacinação contra o novo coronavírus deve ser feito com o máximo de precaução e de maneira refletida. “A autorização para o uso de emergência é algo que precisa ser feito com muita seriedade e reflexão. Não é algo que deve ser realizado com muita frequência”.
Ainda assim, ela acrescentou que cabe a cada país essa decisão, já que as nações têm autoridade e soberania para aprovar imunizações e terapias no próprio território.
Soumya disse que, preferencialmente, a aprovação desse uso deve ser feita quando já houver um conjunto de dados completos sobre o tratamento.
A cientista também apontou que a OMS tem trabalhado com agências regulatórias nacionais, como a FDA, dos Estados Unidos, para estabelecer os critérios de uma vacina eficaz e segura. A entidade estabeleceu que é buscado um imunizante com pelo menos 50% de eficácia, mas preferencialmente mais. O índice mínimo necessário para aprovação é de 30%.
Para comprovação de segurança, é necessário acompanhar quem recebeu o teste por um período de tempo longo já que, enquanto os efeitos colaterais mais leves – como febre – aparecem imediatamente, aqueles mais sérios demoram a se manifestar, apontou Soumya.Dentre os riscos de aprovar uma imunização prematuramente, ela apontou a dificuldade de continuar com os estudos e a possibilidade de aplicar uma vacina que não está fazendo o efeito desejado e não colabora para o fim da pandemia: “Ou pior, com um perfil de segurança que não é aceitável”.
O diretor de emergências da entidade, Michael Ryan, alertou que, se a fase 3 de testes clínicos de uma vacina – a última antes da aprovação – for feita de maneira muito rápida, é possível que nem todos os efeitos graves sejam detectados antes da aplicação em massa.
Pazuello e Fiocruz discutem como acelerar a produção da vacina
O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, e a presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Nísia Trindade Lima, discutiram ontem (31) formas de acelerar o cronograma da produção da vacina contra a covid-19 no Brasil. A vacina resultará de acordo entre a Fiocruz, a empresa biofarmacêutica global AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
A parceria prevê a assinatura, na primeira semana de setembro, de um acordo de encomenda tecnológica e desenvolvimento de uma plataforma para fabricação de outras vacinas, como a da malária.
Anunciado em 27 de junho pelo Ministério da Saúde, o acordo resulta de tratativas entre os governos do Brasil e do Reino Unido. O governo federal liberou crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para produção e aquisição da vacina contra a covid-19 produzida pelo laboratório AstraZeneca e Universidade de Oxford. Pelas previsões, as primeiras doses da vacina contra a covid-19 deverão ser distribuídas no início de 2021, por meio do PNI (Programa Nacional de Imunização), que atende o SUS (Sistema Único de Saúde).
No encontro com a presidente da Fiocruz, Pazuello disse que o ministério corre para acelerar o processo e disponibilizar, o mais rápido possível, a vacina que imunizará os brasileiros contra a covid-19.
Inicialmente, deverão ser produzidas 100 milhões de doses a partir de insumos importados. A produção integral da vacina na unidade técnico-cientifica Bio-Manguinhos tem início estimado para abril do próximo ano.
Segundo Nísia Lima, a Fiocruz está mobilizando todos os recursos tecnológicos e industriais de que dispõe para que a população tenha acesso à vacina no menor tempo possível. “Estamos conversando com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e parceiros tecnológicos com o intuito de reduzir os prazos de produção, registro e distribuição da vacina”, disse Nísia.