Há um debate em curso sobre a questão de saber se a homoafetividade é uma predisposição genética ou uma escolha de vida. Esse debate está longe de estar concluído. Sobre essa questão, adotamos a perspectiva sistêmica em base aos estudos de Bert Hellinger, tal como nas demais reflexões.
Vamos partir de uma entrevista concedida por ele sobre o tema veiculado num vídeo disponível no YouTube.
O entrevistador pergunta: “O matrimônio gay entre duas pessoas do mesmo sexo tem a ver com matrimônio?” Resposta de Hellinger: “Tem a ver com desenvolvimento social. Assim, tem a ver com falar de homens, de homossexuais, dos quais se diziam que os homens homossexuais eram anormais e que deveriam ser diferentes. Em base a isso, foram-lhes negados direitos importantes, como o direito de viver como casal. No entanto, quando esse direito de viver como casal é concedido, se confirma que 10% de todos os homens são homossexuais, mas não porque o querem, e sim porque é seu destino. Os homossexuais têm exatamente o mesmo direito à sua sexualidade que todos os demais. Assim, quando buscam uma vida comum e uma vida comum que dure com direitos, é uma reivindicação que está em ordem. Desse modo, quando se exclui isso, se diz: ‘nós somos melhores; nós somos em ordem, eles não’. Disso se originam as resistências. No que diz respeito a mim, eu assinto a isso tal como é, e que também esses homens possam viver a sua sexualidade em comum e através dela desenvolver sua humanidade. Nesse sentido, estou totalmente aberto”.
Há vários pontos muito importantes nessa entrevista que mereceriam um comentário. Entre outros: que não cabe falar em “matrimônio” na união homoafetiva; que as pessoas homoafetivas têm o mesmo direito que qualquer ser humano de viver sua orientação sexual e de viver como casais; que esse modo de viver está em conformidade com as ordens do amor; que viver como casal homoafetivo é um modo de desenvolver mais plenamente a humanidade em si mesmo; e, finalmente, que não se trata de uma escolha, mas de um destino. Iremos limitar nossa reflexão especificamente a este último ponto.
Uma vez que se trata de “destino”, do que precisamente Hellinger está falando? Trata-se da constatação feita por ele a partir das observações no campo terapêutico de que a homoafetividade costuma estar ligada a três distintos “padrões sistêmicos”.
O primeiro: a situação na qual um filho é pressionado a representar uma pessoa do sexo oposto no sistema, porque não há filho do mesmo sexo à disposição.
O segundo: a situação em que um filho sente a pressão de representar alguém que foi excluído do sistema familiar ou que foi difamado pelo sistema.
O terceiro: a situação de um filho que ficou preso na esfera da mãe, ou de uma filha que não saiu do âmbito de influência do pai, ambos incapazes de levar a termo o movimento interior em direção à esfera do genitor do mesmo sexo.
Para Hellinger, não se trata de transformar o comportamento homoafetivo em heteroafetivo através da tomada de consciência do destino. Antes, quando um homem ou uma mulher homoafetiva reconhecem o seu destino, podem assumir sua homoafetividade com dignidade. Assumindo esse destino também recebem dele uma força especial.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar
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