Opinião

Coluna AMC: A primeira consulta geriátrica

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Preocupada com a saúde de toda a família e com a elevada prevalência da Hipertensão Arterial entre seus pais, tios e irmãos, Antônia, que mora no bairro Claudete, pergunta qual é a idade certa para a primeira consulta geriátrica.  Na verdade, não existe uma resposta correta. A idade certa é quando você começa a se preocupar com esse assunto. Para alguns, é aos quarenta, para outros, depois dos cinquenta. É, enfim, quando surgem as primeiras dúvidas a respeito do processo de envelhecimento próprio ou de um familiar, com a consequente necessidade de buscar as medidas preventivas para determinadas condições de saúde.

Alguns fatores são importantes para a longevidade, como uma vida sexual satisfatória e prazerosa. Segundo o renomado geriatra brasileiro Renato Maia, é uma manifestação de bem-estar, interesse e valorização da vida. Contribui para deixar a vida mais alegre e feliz. Com relação aos exercícios, tanto os chamados aeróbicos ou mesmo a musculação são muito úteis. A musculação tem um papel importante na prevenção da osteoporose, porque é uma estratégia ótima para manter a densidade óssea. Os exercícios aeróbicos são importantes em qualquer fase da vida porque têm impacto na nossa resistência cardiorrespiratória. A intensidade deve ser sempre moderada. O importante para o idoso é que faça uma atividade que não cause desgaste ou dor, e respeite o limite de cada um.

Não existe tratamento rejuvenescedor. É necessário tomar cuidado com as clínicas que oferecem isso. São tratamentos caros e não têm efeito comprovado.  Alguns vícios, quando iniciados na terceira idade, causam graves problemas. O alcoolismo tem um efeito danoso no fígado, nos nervos, no cérebro e é uma causa de alterações comportamentais e destruição do ambiente familiar. O fumo pode dar câncer, doença cardíaca e envelhecimento da pele.

A perda de memória é muito relativa.  A atividade física é mais uma vez bem-vinda porque melhora a função cerebral. Leitura, jogos que exigem raciocínio e também o estímulo cognitivo, com cálculos de cabeça; submeter-se a novas tarefas que exijam mais da função cognitiva é uma boa prática. Uma coisa importante é evitar medicamentos que possam comprometer a função cerebral, como os tranquilizantes e medicamentos para dormir. Para abandonar esses vícios ou qualquer outro, a primeira coisa a fazer é assumir que quer parar. Não é fácil parar de fumar, porque quem fuma sente prazer. Se a pessoa não conseguir parar de fumar por si própria, existe tratamento com medicamentos que ajudam e têm um resultado muito bom, com até 70% de sucesso.

A melhor dica para viver muito é sentir-se útil, evitando a chamada “morte social”. Quem tem ainda alguma dúvida de sua importância, após uma longa trajetória de vida, é porque apresenta um desajuste familiar ou sofre de depressão.  Cada um deve ter consciência de suas potencialidades e de suas múltiplas utilidades para o meio em que vive.

A aposentadoria deve ser vista como um período de novas oportunidades, alternando períodos de trabalho, lazer e estudo. É importante fazer o que se gosta, sem ter que se preocupar tanto quanto o jovem.  Por outro lado, deve-se evitar o desgaste de um ambiente pesado, uns incomodando a todos e a si mesmo.

A velhice, portanto, não é uma janela que se vislumbra aos 60 anos. A velhice é uma continuação da vida que nós construímos no dia a dia. Quem quer viver bem, tem que viver agora. Quem investir em educação e cuidado com a saúde, a socialização, a conquista de um bom emprego, em paz e felicidade, estará construindo uma trajetória positiva para si e para o meio em que vive. Aí tudo terá valido a pena… e poderemos, como o poeta chileno Pablo Neruda, confessar a nós mesmos que vivemos uma vida plena (“Confesso que vivi” é o nome de sua autobiografia).

Dr. Márcio Couto – Médico Cardiologista – CRM-PR 14933 – Membro da diretoria da AMC.