Agronegócio

Valorização de 30% eleva a saca da soja aos R$ 80

O sonho dos produtores da região oeste do Paraná vem sendo alcançado com a venda do bushel da soja – unidade de medida imperial que soma 27,215 quilos e serve como base para calculo do cereal na bolsa de valores – a mais de US$ 10. Isso significa que, na prática, a saca de 60 quilos da oleaginosa chegou nesta semana para a região oeste do Paraná muito próxima dos R$ 80, valor 30% maior que o praticado no mesmo período do ano passado, quando era R$ 62.

O especialista de mercado Camilo Motter lembra que essa valorização em dólar, calculada para a commodity na Bolsa de Chicago, vem sendo influenciada por três cenários: os reflexos da quebra histórica no cultivo argentino, provocada pela estiagem, o embate comercial travado por Estados Unidos e China que ainda está emergente e o plantio norte-americano que só se inicia agora e que, pela primeira vez em 30 anos, terá mais soja do que milho cultivado por lá.

Tudo isso veio somado à valorização do dólar perante o real, a maior dos últimos 16 meses, chegando a R$ 3,50 nessa quarta-feira. A valorização da moeda americana está diretamente associada à crescente oferta de títulos do governo dos EUA e à aceleração da inflação conforme os preços do petróleo e das commodities sobem, além da previsão do mercado interno prever o aumento dos juros nos Estados Unidos. “O dólar como está favorece e muito as exportações brasileiras. Tanto é que as trades de exportação estão muito alongadas. a soja que está sendo vendida agora só vai embarcar lá por junho”, destacou.

O bom cenário tem feito com que o Porto de Paranaguá, por exemplo, quebre um recorde atrás do outro nas embarcações.

R$ 2,4 bilhões nos armazéns

Da última produção estadual, referente ao ciclo 2017/2018, já foram comercializados em todo o Paraná entre 45% a 48%. “No ano passado estávamos um pouco mais adiantados nessas vendas, já tinham saído cerca de 52%, mas com o dólar subindo e com a tendência de não parar por aí, as vendas vão seguir bem aquecidas”, avalia Camilo Motter.

Na região oeste do Paraná, a avaliação é de que, das 3,6 milhões de toneladas colhidas no último ciclo, ao menos 1,8 milhão delas continuem nos silos e armazéns. “Na região, metade já foi vendida e se aguarda também esse aumento do dólar, que deve seguir nos próximos dias”, reforçou.

Equivale dizer, no entanto, que os armazéns oeste afora guardam uma verdadeira fortuna, cotada hoje em R$ 2,4 bilhões.

E se no fim do ano passado e início deste ano as condições do tempo tiravam o sono do sojicultor, que estavam com o ciclo atrasado em 30 dias primeiro pela falta de chuva, depois pelo excesso dela, as perdas que ficaram na casa dos 10% na região já foram superadas, de longe, pelos ganhos com a valorização do grão no mercado internacional. “Até fevereiro o preço pago pela saca não compensava muito, mas depois alguns cenários externos colaboraram com as vendas para o produto brasileiro, que hoje está neste bom momento”, completa o especialista.

O que faz o dólar subir

O dólar tem fechado os pregões com valorização pressionado pela alta de juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A moeda norte-americana tem subido dia após dia, sobretudo nesta semana, chegando ao maior patamar desde dezembro de 2016. “Há uma tendência de elevação, que teve início em meados de março. No mês, a moeda aumentou 4,5% em relação ao real”, diz o analista-chefe de uma empresa de investimentos Roberto Indech, ao lembrar que esse não é um movimento exclusivo da economia brasileira. México e China, por exemplo, também acumulam trajetória de alta superior a 4% no mês.

Para ele, além dos juros dos Estados Unidos, que ficarão perto de 3% ao ano – acima do esperado pelo mercado -, o embate comercial entre China e EUA, o ataque à Síria e a questão eleitoral no Brasil contribuem para que o câmbio siga valorizado.

“O dólar está ganhando força com todos esses eventos e deve se fortalecer ainda mais nos próximos meses. O fato é que a expansão da moeda nesta semana não foi um fenômeno local, como vinha ocorrendo, mas reflexo de todo o cenário externo”, considera Marcos Mollica, sócio-gestor de outra empresa de investimentos.

A bolsa brasileira, por sua vez, fechou o pregão no início desta semana estável e com valorização.