Agronegócio

Santa Catarina quer reserva de mercado, dizem líderes

Faep repudia ação do governo catarinense, que quer postergar novo status paranaense

Foto: Aílton Santos

Curitiba – A declaração feita pelo secretário de Agricultura e Pesca do estado de Santa Catarina, Ricardo de Gouvêa, de que a antecipação do fim da vacinação contra a febre aftosa no Paraná de 2021 para 2019 “preocupa” o estado vizinho, sugerindo falta de preparo sanitário paranaense, gerou reações imediatas em entidades que representam o setor produtivo no Paraná e que participam ativamente das ações para conquista do novo status sanitário.

O Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) criticou de forma veemente a alegação: “A Faep repudia a afirmação do secretário catarinense, pois tem certeza de que o Paraná reúne todas as condições sanitárias e técnicas para iniciar o processo de reconhecimento como área livre de febre aftosa sem vacinação pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal)”.

A federação lembrou ainda que em janeiro e agosto de 2018, profissionais do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) avaliaram, por meio de auditorias, programas, estrutura, capacidades técnica, financeira e administrativa do serviço de vigilância da sanidade agropecuária do Paraná e que o serviço sanitário paranaense foi avaliado como um dos melhores do Brasil, atingindo e/ou superando em mais de 85% os critérios avaliados.

“A Faep participou do trabalho, nos últimos anos, do esforço coletivo que envolveu entidades públicas e privadas para preparar o Estado do Paraná para o processo de execução do PNEFA (Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa). Assim como Santa Catarina conquistou o status de área livre de aftosa sem vacinação em 2007, com irrestrito apoio do Paraná na época, a Faep tem certeza de que o governo catarinense e seus integrantes irão rever o posicionamento e passar a apoiar o processo”.

Reserva de mercado

Para o presidente do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), Danilo Vendruscullo, entidade que tem em um dos principais eixos de atuação a conquista do status sanitário de área livre da doença sem vacinação, a condição prestes a ser conquistada vai fomentar o desenvolvimento como um todo. Ele acredita que as alegações feitas por alguns segmentos do estado catarinense não passam de tentativa de reserva de mercado. “Hoje Santa Catarina nada de braçada. Só eles possuem condição de área livre da doença sem vacinação no Brasil e vendem suínos para todos os mercados. Sendo área livre sem a vacina, o Paraná vai passar a acessar esses mercados [mais de 150 países que possuem restrições] e entendemos isso como uma tentativa nítida de preservar o mercado só para eles”, criticou.

Ainda de acordo com o presidente do POD, o apontamento feito pelo estado vizinho não preocupa o Paraná do ponto de vista sanitário, considerando que o “dever de casa foi e está sendo feito corretamente”. “Estamos preocupados com a implantação dos conselhos municipais de sanidade, já está em atuação o conselho regional, alguns municípios estão com ele implantado e até o fim do ano todos cobertos pela Amop terão esse importante serviço. Os menores serão abrangidos por conselhos de sanidade de municípios-polo, bem diferente de Santa Catarina, onde esses conselhos nem sequer estão instalados”, afirma.

Convencimento dentro do próprio estado

Para Danilo Vendruscullo, qualquer alegação de Santa Catarina não deve interferir nas ações corriqueiras com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento) e que não gera preocupações iminentes. “Estamos afinados com o governo federal. O novo governo tem uma ideia de desburocratizar os serviços, temos condições sanitárias, mercados para conquistar e devemos nos preocupar mais em convencer os produtores das regiões noroeste e norte do próprio Paraná que ainda apresentam algum tipo de resistência ao fim da vacinação do que com o estado de Santa Catarina propriamente dito”, seguiu.

Os produtores a que Danilo se refere ficariam impedidos, com o fim da vacinação, de trazer animais para a engorda ou terminação no Estado com o fechamento das divisas interestaduais. “Digamos que o Estado de Santa Catarina insista para que o Paraná siga com a vacina até 2021, é apenas uma questão de tempo, pois em 2023 já teríamos o status internacional e alcançaríamos os mercados mesmo assim. O Brasil inteiro terá esse status até 2023. Ou seja, é algo que precisa ser revisto pelo estado vizinho”.

Esforços para o convencimento

No início de fevereiro, em visita a Cascavel, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, reforçou que o Estado segue firme nas adequações exigidas pelo Mapa e caminha para as últimas imunizações. O que se espera é que os cerca de 10 milhões de bovinos e bubalinos sejam imunizados pela última vez em maio próximo. Com uma cepa a menos do vírus na dose, a vacina será vendida em dosagem menor, de 2mg, e ficará disponível no mercado para os produtores uma semana antes da imunização.

O Estado trabalha na articulação de um grande encontro, envolvendo todos os segmentos do setor produtivo. O foco é eliminar qualquer foco de resistência que ainda possa haver ao novo status sanitário a ser alcançado. “O Paraná tem condições, cumprimos todas as exigências do Mapa, e estamos prontos para o fim da vacina”, assegura.

O Paraná e a aftosa

A batalha para conquistar o status sanitário de área livre de aftosa sem vacinação no Paraná vem sendo travada há 14 anos. Em outubro de 2005 foram registrados casos da doença no Estado, pela última vez.

Após um rigoroso controle de sanidade, de vigilância nas divisas interestaduais e um trabalho massivo de imunização e adequação dos sistemas, o Paraná se tornou livre da doença, mas com vacinação, condição que se estende por mais de uma década.

Apesar de a doença atacar bovinos e bubalinos e não ser transmitida aos humanos, para o mercado internacional a condição sanitária atinge em cheio a credibilidade do setor, inclusive na suinocultura. Hoje a carne suína no Paraná não chega a mais de 150 países que possuem restrições. O Estado possui um dos maiores plantéis de suínos do Brasil e, por consequência de abate, o maior abate de aves, com o principal volume de exportações de todo o País, além de uma das maiores bacias leiteiras de todo o território nacional.

Reportagem: Juliet Manfrin