Policial

Polícia investiga quadrilha de tráfico de pessoas no Estado

Vítimas seriam aliciadas via internet com promessas de trabalho no Paraná

Equipes do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná investigam uma quadrilha responsável pelo tráfico de pessoas no Estado. De acordo com a assessoria de imprensa da Seju (Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos), várias pessoas foram vítimas da quadrilha que faz recrutamento via internet.

A quadrilha, que atua no interior do Estado, foi descoberta depois que a polícia recebeu uma denúncia de uma transexual que chegou ao Paraná no início de março, vinda do Nordeste. A vítima recebeu o nome fictício de Valéria e era mantida refém em uma casa de prostituição junto com pelo menos outras 20 mulheres vindas das mais diversas regiões do País.

As investigações são desenvolvidas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que deve ouvir nos próximos dias as outras mulheres que teriam sido supostamente traficadas.

Em depoimento à Polícia, Valéria disse que foi aliciada por uma mulher que se apresentava como Bruna Marquezine. “Ela pagou tudo e me dizia o tempo todo que eu conseguiria tirar até R$ 1 mil por dia de trabalho, que teria alguns custos, mas que ganharia bem mais do que me prostituindo na minha cidade. Eu não tenho família. Resolvi arriscar a sorte”, relatou.

Quando chegou ao destino, Valéria percebeu que havia sido enganada. “Cheguei numa casa precária, suja, com goteiras e várias outras meninas. Era vigiada o tempo todo. O que me salvou foi ter escondido meu celular para tentar pedir socorro”.

Exploração

Logo Valéria percebeu que era quase impossível sair da casa. Era preciso quitar uma dívida – que somava R$ 2 mil no dia da sua chegada – para voltar a ser livre. Além disso, tudo o que era consumido na casa era cobrado das meninas: um copo de água custava R$ 2; tomar banho, R$ 15. A dívida crescia diariamente. As meninas eram obrigadas a se prostituír das 16h até o outro dia de manhã.

“Se não chegasse com R$ 250 em casa, eles mandavam a gente voltar para a rua”, conta. Segundo ela, eram necessários cinco programas por noite para chegar à quantia.

Cerca de dez dias depois de chegar ao Paraná, Valéria conseguiu colocar créditos no celular e entrou em contato com uma pessoa que milita pela causa LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e essa, por sua vez, fez a denúncia ao Núcleo.

No dia 3 de abril Valéria saiu para fazer programa e foi resgatada pelo Ministério Público, que providenciou imediatamente abrigo e alimentação à vítima. No dia seguinte ela embarcou de volta para casa.

Denúncias

Só este ano, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná já recebeu 25 notificações de casos de pessoas traficadas. Em todo ano passado foram dez denúncias. O aumento no número de casos é resultado da Campanha Coração Azul promovida pela Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos para estimular as delações.

De acordo com o secretário Artagão Júnior, o tráfico de pessoas é um crime silencioso, que retira da vítima a própria condição humana ao tratá-la como um objeto que pode ser vendido, trocado, transportado e explorado.

De acordo com a coordenadora do Núcleo, Silvia Cristina Xavier, a vulnerabilidade, principalmente econômica, tem feito várias vítimas. “A ânsia de mudar de vida, de fugir de uma realidade, de ter uma oportunidade melhor, cega a pessoa e ela se torna uma vítima. Existem grupos, fortemente esquematizados, que se aproveitam dessa fragilidade, muitas vezes momentânea, para explorar, traficar, lucrar em cima de uma pessoa”.