Opinião

Inseminação artificial e a relação de casal

Inseminação artificial e a relação de casal

A inseminação artificial e a inseminação in vitro são avanços da tecnologia moderna que podem viabilizar o desejo de muitos casais de ter filhos. No entanto, as implicações disso no campo sistêmico são muito sérias e, dependendo da situação, graves. Algumas vezes chega-se ao nível do espetáculo como na história popularizada pela TV norte-americana de um casal que decidiu escolher, a partir de um menu, óvulos e espermas de mulheres e homens a fim de fertilizá-los e implantá-los na esposa. Esse procedimento foi repetido com óvulos fertilizados congelados a cada dois anos. As possibilidades ao alcance do casal envolviam a manipulação genética sobre a escolha  de inúmeros traços físicos do ser humano a ser gestado.

O “grave” ao que nos referimos diz respeito a procedimentos bem mais comuns do que este. São procedimentos ao alcance de muitos casais e se refere aos óvulos fecundados e que precisam morrer; aos óvulos fecundados in vitro; à fecundação de óvulo da esposa com esperma de outro doador, entre tantos outros.

Hellinger fez algumas intervenções essenciais a esse respeito ao longo de sua obra de pensamento. Vamos seguir as indicações dele para trazer luz a este tema complexo e possibilitar orientação para os casais que se encontram em situação semelhante.

Uma primeira pergunta recorrentemente feita a Hellinger durante os Seminários tem sido: “no caso de uma inseminação artificial, que consequências têm sobre o casamento?” Já no primeiro registro escrito de 1993 Hellinger responde: “Se o sêmen é do marido está bem”. “E se for de outro doador?”. Neste caso, responde Hellinger, o casamento se rompe.

Vamos à explicação de Hellinger: “Quando um casal precisa encarar um destino especialmente difícil – como, por exemplo, o de não poder ter os filhos que desejariam – devem proceder com especial cuidado ao tentar mudar este destino. Não é tão fácil mudar o destino com meios técnicos como alguns pensam. As consequências para o sistema são inesperadas e, em geral, mais graves do que gostaríamos de admitir. Se um homem, por exemplo, não pode ter filhos e sua esposa busca outro homem ou se submete à inseminação artificial para ficar grávida, ela não aceita o seu marido tal como é, o que é um presságio para sua relação. Se ela deseja ter uma relação de casal com ele, estaria bem aconselhada se o aceitasse tal como é incluindo suas limitações. Caso contrário deveria separar-se dele com todas as consequências que isso comporta” (Hellinger, B. Felicidad Dual, p. 152-153).

A fertilidade ou infertilidade precisam ser olhadas como um destino. Hellinger destaca um ponto importante na decisão de buscar a fertilização artificial: quando se toma “emprestado” sêmen ou óvulo de outra pessoa, não aceita o parceiro tal como é com todas as suas limitações. E quando não tomamos o parceiro por inteiro, a relação dificilmente prospera.

O mesmo entendimento é retomado por Hellinger alguns anos mais tarde durante um Seminário para casais ao responder a pergunta de um participante sobre tomar o esperma ou óvulo de outra pessoa: “Entre sistemas existe uma hierarquia. Portanto, quando nasce um filho de outra relação, a relação anterior acaba. Assim foi também nesse caso. Quando você e sua esposa se decidiram por uma inseminação artificial com sêmen de outro homem, este casamento terminou” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p. 274).


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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