Cotidiano

Depósito a João Santana foi pagamento de ?dívida? do PT, diz lobista ao TSE

BRASÍLIA – O lobista Zwi Skornicki disse à Justiça Eleitoral ter arcado em 2013 com uma “dívida” de US$ 4,5 milhões com o casal João Santana/Mônica Moura, por meio de nove pagamentos de US$ 500 mil ? em contas no exterior ? que se estenderam até novembro de 2014. Zwi é representante do estaleiro Keppel Fels e delator de um esquema de pagamento de propina para obtenção de contratos na Petrobras.

Em depoimento ao ministro Herman Benjamin, corregedor-geral eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Zwi não soube precisar se o valor pago se referia a serviços prestados antes do acerto feito em 2013 ou se o montante dizia respeito a futuros pagamentos ao marqueteiro que atuou na campanha de Dilma Rousseff à Presidência. O lobista disse apenas que se tratava de “dívida”, conforme afirmou ter ouvido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso em Curitiba pela Lava-Jato.

O depoimento de Zwi se deu no âmbito do processo em curso no TSE que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff/Michel Temer reeleita em 2014. Os dois são alvos do processo. O PSDB, que hoje integra o governo de Temer, é o autor da ação que pede a cassação da chapa.

O pedido de pagamento ao marqueteiro João Santana e à sua mulher, Mônica Moura, partiu de Vaccari, conforme Zwi, e não houve um detalhamento sobre a que se referia o dinheiro, segundo o depoimento do lobista à Justiça Eleitoral. O delator afirmou ter estado com dois políticos do PT para tratar de propina, mas não disse os nomes porque a dupla tem foro privilegiado e a delação de Zwi ainda precisa ser homologada, conforme o relato do depoente ao ministro Benjamin.

Os pagamentos feitos diziam respeito apenas ao PT, segundo o lobista. “Vaccari era tesoureiro do PT, a relação dele era de organizar remunerações e fundos para o partido PT. Não indicava nenhum outro partido”, afirmou Zwi. A propina era decorrente de contratos de plataforma de petróleo com a Petrobras, segundo o delator.

Zwi negou ter havido ameaças para pagar propina. E definiu assim por que providenciou os pagamentos: “Cara a cara, nunca houve nenhuma (ameaça)… Mas o senhor sentia subliminarmente que realmente existia alguma coisa por trás, que se não participasse alguém… um outro faria o gol no meu lugar. Quer dizer, no lugar da Keppel.”

A propina não foi paga de forma espontânea, segundo o lobista. “É como se o senhor fizesse um seguro de carro: o senhor não quer nunca usar, mas paga. Basicamente era dessa forma”, disse. “Mas um seguro de carro que não era espontâneo…”, afirmou o ministro Benjamin em seguida. “Que não era espontâneo, claro.”

O depoimento do lobista foi dado em 16 de setembro. A Justiça Eleitoral tornou públicos ontem os documentos do processo.