Agronegócio

Com 50% de valorização, safra pode render R$ 360 mi

Cascavel – Foi um sufoco, mas os produtores de toda a região oeste do Paraná concluíram nessa semana o plantio de quase 160 mil hectares destinados ao trigo. A área é 40% maior que a registrada ano passado e o “estímulo” desta vez foi o atraso no ciclo da soja em mais de um mês e, por consequência, o fim do período indicado para o cultivo do milho safrinha.

Muitos produtores que se viram sem opção para plantar milho e migraram para o trigo fizeram a opção apenas para não deixar a área em pousio, já que a falta de incentivos à triticultura é uma crítica constante do segmento.

Ocorre que essa semeadura também sofreu interferências climáticas. O cultivo terminou com um mês de atraso por falta de chuva, em uma estiagem que perdurou mais de 40 dias, de 1º de abril até meados deste mês.

Mesmo assim, a expectativa inicial de produtividade é de 3 mil quilos por hectare, assim a produção regional, considerando a estimativa inicial do Deral (Departamento de Economia Rural), será de 480 mil toneladas.

O que chama mesmo a atenção é que há meses o trigo não vinha tão valorizado como nos últimos dias, inclusive com cotações que ultrapassaram o preço mínimo, o qual não vinha sendo praticado nos últimos anos.

Se o valor pago nessa semana pela saca de 60 quilos se mantiver até a colheita, R$ 45, o produtor terá motivos para comemorar.

Essa cotação, que acompanha a valorização das commodities, é cerca de 50% maior que a praticada no mesmo período do ano passado e uma das melhores dos últimos dez anos, avaliam as cooperativas. Assim, a rentabilidade com o trigo poderá alcançar os R$ 360 milhões.

Vale lembrar que o Brasil consome cerca de 11,5 milhões de toneladas de trigo por ano, mas não produz nem 5 milhões de toneladas, exigindo então a importação do produto, principalmente da Argentina.

Apesar dos bons preços, a crítica do produtor é pela não opção pelo produto brasileiro. “Em 2016, quando a nossa safra foi excelente em qualidade e qualidade, o que colhi ficou estocado por mais de seis meses. Os moinhos trazem trigo da Argentina porque é mais barato”, afirmou o produtor Everaldo Hauber.

 

O desenvolvimento das lavouras

O panorama de bons rendimentos, que só se mantêm se a qualidade persistir, ainda depende de alguns fatores. O ciclo precisa se desenvolver em certa normalidade climatológica para garantir preço e bom Ph.

Mas os obstáculos climatológicos não são descartados, afinal, as culturas de inverno são sempre de maior risco.

Apesar de a janela do zoneamento permitir o cultivo até o próximo mês, o temor do produtor é ter trigo no campo em outubro, o que, para o segmento, é ainda mais nocivo do que ele ser afetado pelas geadas de julho ou agosto.

Segundo o técnico do Deral no Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel José Pértille, o fim do ciclo em outubro pode, além de atrasar o início do cultivo de verão, prioritariamente destinado à soja na região, sofrer com o período chuvoso geralmente registrado neste mês. “Em outubro geralmente chove mais do que em agosto ou setembro e ter trigo no campo nesse período é muito arriscado. O excesso de umidade pode baixar a qualidade do cereal e provocar até o apodrecimento dele”, reforça.

Neste momento, 100% das lavouras estão em desenvolvimento vegetativo em todo o oeste.

A semeadura foi intensificada nos últimos dez dias após a ocorrência de chuva e a precipitação registrada nessa semana é considerada benéfica à cultura.

As temperaturas também não oferecem risco ao desenvolvimento, até o momento.