Opinião

Coluna Amparar

Devem os pais consultar os filhos sobre o novo parceiro?

Coluna Amparar

Devem os pais consultar os filhos sobre o novo parceiro?

 

Concluímos a postagem anterior com a informação de Bert Hellinger de que “os filhos devem ficar com o cônjuge que mais valorize o outro neles”.  Além disso, ressaltamos que não se deve perguntar aos filhos com quem querem ficar, porque isso os obrigará a decidir entre os pais: ao escolher por ficar com a mãe, se colocam contra o pai; caso se decidam a ficar com o pai, se colocam contra a mãe. Uma decisão assim é pesada demais para ser colocada sobre os ombros dos filhos. Os pais devem decidir entre si, mesmo que os filhos protestem. Será mais leve isso, do que escolher entre ficar com a mãe ou com o pai.

Em sua última obra publicada em vida, Hellinger oferece um esclarecimento adicional. Segundo ele, como regra geral, o filho homem é mais bem cuidado pelo pai e a filha mulher pela mãe. Desta maneira, o filho pode desenvolver melhor sua masculinidade e a filha desenvolver sua feminilidade. Alerta, porém, que “existem situações em que isso não é possível e nem está correto. Situações em que todos os filhos, meninos ou meninas, deveriam estar com a mãe, ou vice-versa, com o pai. Isso depende das circunstâncias” (Hellinger, B. Mein Leben. Mein Werk, Ariston eBook, 2018 – tradução nossa).

Uma situação particularmente delicada é quando um dos parceiros nega ao outro o acesso ao filho. O filho, diz Hellinger, precisa e ama a ambos os pais de modo igual. Quando em uma separação o filho acaba morando com um dos genitores, ele passa a ter medo de mostrar seu amor para com a outra parte, porque receia que isso provoque a ira da parte com quem vive e acabe perdendo o amor dela. Como lidar com a situação na qual a parte com a qual o filho vive nega à outra parte o acesso a ele?

Segundo Hellinger, a parte excluída “está na posição de mais forte. […] Quando está consciente disso pode esperar. Com efeito, no final o filho se alia com aquele que foi tratado injustamente; quer dizer, não com aquele que ganha e sim com aquele que aparentemente perde” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p. 215). A parte excluída, explica Hellinger, espera e depois faz entender ao filho que é seu pai ou sua mãe (conforme o caso) e que ele sempre pode contar com ele/a, aconteça o que acontecer.

Outra questão que costuma trazer dificuldades a pais separados refere-se a como encaminhar junto aos filhos a decisão de estabelecer um novo vínculo. Movido pelo desejo de que o filho tenha uma relação harmoniosa com o novo parceiro ou nova parceira, devem os pais consultar o filho sobre a questão? Hellinger responde a interrogação dessa maneira: “Se um homem que tem a guarda dos filhos deseja se casar novamente, não deve tomar sua decisão dependente da aceitação dos filhos. Deve fazer o que é certo para ele, e os filhos têm de aceitar o fato. […] Entretanto, não são obrigados a amar o novo parceiro” (Hellinger, B. A simetria oculta do amor, p. 120).

Detrás dessa posição de Hellinger está uma razão sistêmica: quando os pais consultam os filhos sobre a nova parceria violam o princípio da ordem, pois os filhos tomam seus pais como se fossem seus iguais e não como menores. Ainda que no plano consciente os filhos possam sentir-se lisonjeados com a deferência dos pais, no plano inconsciente a inversão de ordem causa danos psíquicos com as conhecidas consequências de expiação. Já em relação à educação, madrastas e padrastos não devem interferir. É assunto específico dos pais.

—————————

JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar