Opinião

Coluna Amparar: homoafetividade e práticas de exclusão

Quando excluímos os homossexuais, nos consideramos melhores

Coluna Amparar: homoafetividade e práticas de exclusão

Felizmente, a perspectiva social sobre a homoafetividade vem alcançando progressivamente mais aceitação. A mais recente manifestação nesse sentido vem do chefe da Igreja Católica: “Homossexuais têm o direito de ser parte de uma família. Eles são filhos de Deus e têm o direito a uma família. Ninguém deve ser expulso, ou se tornar miserável por causa disso. O que precisamos ter é uma lei de união civil. Assim, eles são protegidos legalmente. Eu apoio isso” (Papa Francisco. Documentário Francesco, dirigido por Evgeny Afineevsky e exibido em uma sessão especial do Festival de Cinema de Roma em 21/10/2020).

Cada vez mais é possível ver casais homoafetivos assumindo livre e abertamente sua condição em público. Carinhos e carícias, antes só permitidas entre casais heterossexuais, hoje já são vistas com naturalidade também em casais homoafetivos. Isso, porém, não elimina o sofrimento desses casais nem as perseguições e as exclusões dos quais continuam sendo vítimas.

Como entender a relação homoafetiva desde a perspectiva sistêmica? Vamos apresentar a visão desenvolvida por Bert Hellinger acerca desse assunto. Esse é um tema que, mesmo para ele, é cheio de desafios.

Para começar, Hellinger entende que a relação de casal está orientada à continuidade da vida, como acontece com todos os seres vivos. Por conseguinte, unicamente a união de um masculino com um feminino é capaz de cumprir essa finalidade. Para ele, trata-se de uma questão de natureza, não de valor religioso ou moral.

Desde sua primeira publicação, em 1993, Hellinger tem mantido praticamente a mesma posição. Corajosamente, ele registra a pergunta-chave de um participante do seminário: “Sou homossexual e me parece que não há qualquer lugar para pessoas como eu em seu sistema de ordens. Que sentido pode ter para mim quando você diz que um homem ‘se converte em homem’ em sua relação com uma mulher, e que uma mulher ‘se converte em mulher’ em sua relação com um homem? Desta maneira, a heterossexualidade se converte no único modo de realizar-se como ser humano”.

O que diz em sua resposta? Antes de tudo, chama a atenção para as graves consequências da exclusão do sistema familiar de alguém pelo fato de ser homoafetivo: “Os homossexuais são membros da família e, como tais, devem ser reconhecidos e valorizados. Caso contrário, se fere o amor”.

Quando excluímos os homossexuais, nos consideramos melhores: nós, heterossexuais, estamos em ordem, eles, os homossexuais, não.

Isso, porém, não anula um fato natural e biológico, ressalta Hellinger: o amor que vincula o casal homoafetivo “não é capaz de levá-lo a ter filhos. A procriação exige a heterossexualidade, e este fato não pode ser ignorado como se não existisse nem tivesse consequências”.

Na postagem da próxima semana aprofundaremos a questão desde o olhar de Hellinger mostrando qual nível e forma de realização humana ele entende ser possível para um casal homoafetivo.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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