Opinião

Coluna Amparar: a realização humana do casal homoafetivo

Segundo Hellinger, uma vez que a procriação dá continuidade à vida, ela é uma realidade de dimensões divinas

Coluna Amparar: a realização humana do casal homoafetivo

Na postagem da semana passada, expusemos a posição de Hellinger sobre a necessidade de inclusão dos casais homoafetivos no sistema familiar. Isso, porém, não elimina o fato biológico da impossibilidade da procriação. Qual, então, o nível de realização humana possível a um casal homoafetivo?

Segundo Hellinger, uma vez que a procriação dá continuidade à vida, ela é uma realidade de dimensões divinas. Se, por hipótese, os seres humanos fossem tolhidos dessa capacidade, a vida no planeta Terra simplesmente se extinguiria! É, assim, o modo pelo qual o ser humano alcança o máximo de sua humanidade na medida em que possibilita que a vida continue. A vida que os pais passam aos filhos é um valor impossível de ser compensado. O único modo de os filhos compensarem os pais por isso é passando a vida adiante. É disso que um casal homoafetivo fica impossibilitado.

Um casal homoafetivo é, então, comparável em suas possibilidades humanas de realização a um casal heteroafetivo sem filhos. Abre-se ao casal sem filhos – homo ou heteroafetivo – um espaço de realização incomparável. Não é menor neste aspecto ao que alcança um casal com filhos. No entanto, é preciso que os casais sem filhos – homo ou heteroafetivos – tenham clareza dos objetivos de seu relacionamento, pois não é qualquer objetivo que possui o potencial de manter uma relação duradoura e de amor, alerta Hellinger. Assim, por exemplo, diz Hellinger, o querer evitar a solidão ou a sensação de vazio não é uma meta que possa apoiar uma relação duradoura entre iguais. Muitas vezes, essa é a motivação para firmar um vínculo tanto da parte de casais homoafetivos quanto de heteroafetivos.

Outra aproximação entre casais homo e heteroafetivos sem filhos diz respeito à dinâmica da separação. Quando não existem filhos, a separação acontece com menos culpa, pois os únicos feridos são os parceiros. Algo bem diverso ocorre quando há filhos: em geral, é sobre eles que recaem as consequências mais sérias. Assim, paradoxalmente, a culpa adicional que os pais com filhos sentem torna mais difícil a separação, mas também serve de apoio para a relação. Os casais sem filhos, entre os quais também os casais homoafetivos, não podem contar com o apoio dessas consequências para mantê-los juntos em tempos de crise.

Para Hellinger, a homoafetividade é uma questão de destino, não de predisposição genética. Ele chega a essa conclusão a partir de suas observações no campo terapêutico. Enquanto destino, não é algo do que se deva dizer que é necessário ser modificado, como se fosse algo anormal. Como tantos outros destinos que alguém precisa carregar também esse é um destino difícil.

Diante dele, Hellinger defende que a postura mais adequada é a de aceitação, de concordância com ele tal como é. Uma vez que se aceita com dignidade, isso é, como algo que lhe pertence e que em nada o diminui diante dos demais, a pessoa com esse destino recebe dele uma força nova capaz de viver uma vida feliz numa relação homoafetiva.

Sobre esse ponto, a homoafetividade como destino, voltaremos na próxima postagem.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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