Opinião

A paternidade real é uma ilusão de ótica que precisa ser desvendada

A paternidade real é uma ilusão de ótica que precisa ser desvendada

A sociedade cobra uma mãe completa. Existe quase uma receita. Precisa ser proativa, protetora e de preferência mãe de parto-normal. Ela precisa sentir-se culpada por deixar o filho e ir trabalhar, mas também não pode faltar no trabalho caso a cria precise dela. Juro, tenho visto mulheres exaustas.
Não vou falar de corpo perfeito, pois eu já não consigo ser tão superficial. Só vou lembrar que ela precisa amamentar (eu também acho) e que depois disso de preferência faça uma introdução alimentar perfeita. Caso seu filho for flagrado com uma refeição improvisada, haverá consequências, nem que seja uma indireta na mesa de Natal.
Hoje, portanto, não desejo falar das mães. Quero falar da receita de um pai perfeito. Ela não existe. Ele não precisa de quase nada. Se são separados, paga pensão e busca nos bons momentos (estou ciente das exceções). Nem sempre pode ser comunicado da dor de ouvido na madrugada. Pelo menos uma vez por semana socorro amigas nesta situação. No entanto, eu que sou casada, também sou socorrida. Então, sejam bem-vindas, estamos juntas.
Poucos pais sabem o que é dificuldade no movimento fino. Hiperatividade, ansiedade noturna, fissura no bico dos seios. Também entendem pouco sobre a dor da separação. Quase nenhum se ajoelhou e pediu aos céus que a tata perfeita responda seu pedido nos classificados da cidade. Muitos desconhecem a dor de saber que a babá em pouco tempo poderá ser chamada de mãe. Ainda é melhor que o medo.
Poucos sabem da falta que fazem as avós, uma das únicas chances de descanso real que poderíamos ter na vida. Eu tenho visto poucos homens prepararem as refeições ou se preocuparem se os alimentos estão congelados ou não. Tenho visto mulheres exaustas, mas que ainda não se deram conta que estão sozinhas.
Poucas das minhas amigas conseguem ler seu livro preferido. Algumas deixaram de assistir seus programas preferidos, estudar e até viver por suas famílias. O real motivo da luta não é esse. Sempre que alguém se ausenta da luta, o outro terá que carregar o dobro. A regra é básica como uma equação matemática. Pai emocionalmente ausente, mãe exausta presente!
Ficamos admiradas quando uma amiga conta que cria o filho com a famigerada pensão, mas poucas vezes fazemos a conta de quanto de fato dedicamos sozinhas aos filhos. No fundo, temos menos que as mães solos. Existe uma solidão feminina na educação dos filhos, na maioria esmagadora das vezes.
Enquanto o filho for problema exclusivamente nosso, algo está profundamente errado. Enquanto uma mãe sem escola ainda precisar acolher seu filho no escritório, a sociedade não terá encontrado seu caminho. Toda vez que uma mulher estagnar sua carreira por causa de uma gestação, haverá algo errado. Se teu companheiro tem férias e você nem folga, algo grita entre vocês.
Se teu filho precisa disputar com o grupo de WhatsApp do pai e você precisa lembra-lo o tempo todo que isso afeta o fortalecimento de vínculo e que pode trazer danos par ao filho que é de ambos, não me leve a mal, mas precisamos conversar sobre paternidade covarde.
Me curvo diante dos pais que entenderam seu chamado. Ofereço minhas mãos aos que desejam aprender sobre como ser ativo e deixar de lado a cômoda apatia. Caso você não esteja incluído neste relato, já sabe que é meu convidado para mudar esse mundo em que ser homem basta. Não basta. Nunca basta.
Mulheres, o esforço para que nossos filhos tenham pais não é responsabilidade nossa. Quem não der conta de ser pai que peça para sair. Já é extremamente importante sermos mães. Você não precisar fazer por dois, acredite.

Edna Nunes é jornalista