Opinião

A fome, a bolsa e a dignidade

Por Carla Hachmann

O presidente Jair Bolsonaro voltou a causar polêmica com suas declarações. Em café com correspondentes internacionais, disse que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”.

Segundo ele, referia-se a pessoas esquálidas que são vistas em outros países, provavelmente em alusão a regiões pobres da África.

Claro que suas declarações repercutiram, e mal, até porque organismos mundiais afirmam que no Brasil 2,5% da população está em grave situação alimentar e que 5,2 milhões de pessoas passam um dia ou mais sem conseguir comer por falta de comida.

Em suas explicações, o presidente queria dizer que não concorda com os programas assistencialistas, como bolsas concedidas a famílias mais pobres, e que o discurso não pode ser dirigido para as massas carentes de forma populista, mas para aqueles que podem gerar emprego e renda e mudar essa situação.

A fome deve ser um dos piores castigos a que um ser vivo possa ser submetido. E só quem a sente seria capaz de descrever seu horror. Mas é possível, sim, imaginar o que é sentir fome e não ter como matá-la, ou pior ainda, ver sua família passando por isso e não ter condições de atendê-la.

Pouco depois, o próprio presidente se corrigiu, dizendo que havia, sim, quem ainda não tinha o que comer no Brasil, fruto de questões históricas e de situações que estava tentando resolver.

E então faz uma ponderação que pode, sim, mudar nosso futuro: “O que tira o homem e a mulher da miséria é o conhecimento, não são bolsas e programas assistencialistas. Nós temos que lutar nesse sentido, nessa linha, para dar dignidade ao homem e à mulher brasileira.” Que assim seja!