Educação

Indefinição na educação reduz fabricação e venda de uniforme

Sem reposição, lojas têm poucas opções e partem para encomenda

Indefinição na educação reduz fabricação e venda de uniforme

A indefinição do retorno das aulas presenciais obrigatórias tem prejudicado muito o negócio de uniformes escolares. Empresas que atuam na fabricação e na comercialização dessas peças passam por um momento bem atípico.

O proprietário de uma loja conhecida por vender materiais esportivos e uniformes das escolas de Cascavel conta que o volume de vendas de início do ano caiu quase 80% comparado ao mesmo período do ano passado. “Os pais que compraram o kit completo para os primeiros meses em 2020, para o verão – camiseta curta, regata, bermuda, short saia -, nem estão comprando neste ano porque não sabem se as aulas presenciais serão realmente retomadas, nem quando isso vai acontecer. Criança em casa não usa uniforme para assistir à aula on-line”.

Ele conta que o prejuízo só não é maior porque segurou os pedidos para o segundo semestre, quando a procura é por agasalhos.

De acordo com a vendedora Ivanette Muller, com o estoque pequeno, os pais que procuram os produtos têm tido dificuldade ante à falta de opção. “Temos peças mais básicas e com numeração limitada. Se o cliente quer uma versão diferente, ou um número específico, solicitamos para a fábrica, mas mesmo assim não tem muita saída”, comenta.

Ela conta que o movimento de clientes aumentou, mas a quantidade de peças é menor. “Temos clientes que estão comprando, mas não como antes. Levam uma camiseta só ou uma bermuda e uma regata, porque têm medo de levar e, mais uma vez, o aluno não usar”.

 

Produção praticamente parada há um ano

Uma empresa que atua há mais de 20 anos em Cascavel nunca havia passado por um momento como esse. “Em todos os anos de funcionamento, num período como este, nunca estivemos com o estoque tão baixo. Estamos praticamente com o que sobrou do começo do ano passado, que havia sido produzido e não foi vendido. Nos meses de outubro, novembro e dezembro, a gente fabricava de 300 a 500 peças por mês já pensando na volta às aulas, porque, além de vender na nossa loja diretamente para o cliente, a nossa fábrica abastecia vários outros estabelecimentos de Cascavel e de cidades como Toledo, Marechal Cândido Rondon, por isso precisava ter uma produção boa”, lembra. “Em maio, quando começamos a repor as peças para o inverno, para ser vendidas junho e julho, paramos quase totalmente a fabricação devido à pandemia. Não tinha expectativa alguma de retorno das aulas”.

A empresa passou a confeccionar peças apenas quando o cliente encomendava.

Mas não foi só a produção que diminuiu. “Infelizmente, reduzimos o número de funcionários fixos e terceirizados, dispensamos parte da equipe de criação e design”, lamenta.

Já um empresário de outra fábrica conta que até o começo de 2020 o sistema de cadastros da empresa possuía mais de mil clientes ativos de Cascavel e região oeste, que realizavam pedidos periodicamente, incluindo empresas de pequeno a grande porte, clubes esportivos e estabelecimentos escolares (estaduais, municipais e particulares), além dos clientes efetivos. “De 60 clientes, por exemplo, que costumávamos atender de dezembro a março, só 15 chegaram a encaminhar pedido de produtos até agora. Esperamos que essas previsões de retorno das aulas sejam concretizadas para termos um pouco de otimismo”, acrescenta.

Ele alerta ainda para outro problema: a falta de matéria-prima, já que muitas empresas de tecidos no Brasil e no exterior diminuíram a produção. “O possível aumento da demanda nos próximos meses deve causar a falta do produto para abastecer as fábricas. Ao mesmo tempo em que muitos empresários estão inseguros em repor o estoque – e entendemos a situação deles -, é preciso começar a pensar no abastecimento daqui pra frente, porque, quando as aulas voltarem mesmo, a procura vai ser grande e pode correr o risco de faltar produto”, avisa.

 

Bazar tem sido uma opção indispensável

Antes era só uma maneira de economizar um pouco na hora de comprar uniformes para as crianças, mas agora está se tornando uma prática necessária: o famoso bazar. Repassar adiante peças que ficaram pequenas para os filhos, com valores bem menores que os das lojas, ou trocar produtos com outras mães, ganha cada vez mais adeptos.

As feirinhas promovidas por meio de grupos de WhatsApp, encontros de mães e até mesmo nas redes sociais têm agora mais um ponto positivo: a qualidade, já que as peças estão quase sem uso.

A empresária Vanessa Rosso colocou à venda esta semana o uniforme completo da filha que foi usado poucas vezes. “Todas as peças que estou oferecendo no bazar têm menos de dois meses de uso. Era o primeiro ano da minha filha na escola e, como teve só aula em casa, praticamente acabou não usando e perdendo muita coisa. O valor é menos da metade que paguei na loja, mas é um jeito de não perder o investimento”, explica.

A professora Elisete Aparecida tem dois filhos, de 8 e 14 anos, que estão saindo do ensino privado e migrando para escolas públicas, por isso pretende se desfazer do uniforme que os filhos usavam. “Os uniformes não servem mais para nenhum dos dois. Foram mais de dez anos na mesma escola, então tem muita coisa boa. Estou esperando o bazar para colocar tudo à venda e usar o dinheiro para ajudar na compra do material escolar deles”, conta.

Bom para quem vende, melhor ainda para quem compra. Será a terceira vez que a esteticista Giuliana Penha vai comprar peças de outras mães e garante que consegue economizar mais de 60%. “Uma camiseta nova, na loja, custa R$ 38. Compro por R$ 15, no máximo. No fim das contas, você vê a diferença”.

 

Onde encontrar

Todo início do ano, muitas escolas promovem o bazar dentro do próprio estabelecimento. A diretora de uma escola particular considera a ação fundamental neste momento. “Já é uma tradição o nosso bazar. Pais trazem as roupinhas, as catalogamos, registramos com etiquetas e colocamos em exposição para quem quiser comprar. Tem a arara do troca-troca, que você oferece uma peça em troca de uma que precisa e é um sucesso. Este ano vamos retomar as aulas na segunda quinzena de fevereiro, mas já começamos a organizar tudo com um detalhe a mais: os cuidados com a pandemia. Precisamos higienizar as peças. Não será possível provar e precisamos respeitar todas as orientações das autoridades”, alerta, que acrescenta: “Insistimos em realizar o bazer neste ano levando em conta tudo o que aconteceu em 2020. É uma forma de aliviar os gastos dos nossos pais”.