Cascavel – Como já era esperado, depois de um período em que a saca do milho atingiu patamares estratosféricos, beirando a cifra de R$ 100 em maio do ano passado, neste ano, no mesmo período, o valor do cereal tem tido um desempenho nada animador, gerando dor de cabeça ao produtor que, ao colocar as despesas na ponta do lápis, a conta não fecha. Para piorar, o custo de produção é um dos mais elevados dos últimos dez anos, conforme especialistas do setor. De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a cotação da saca do milho, ontem (1º), era de R$ 47. Com esse valor, muitos produtores têm retido o grão na expectativa de reação dos preços, algo insólito até o momento.
Para falar sobre o overview do mercado do milho, o Jornal O Paraná conversou com o especialista na área de gerenciamento de risco da StoneX, Leonardo Martini Lima. “Realmente, o mercado do milho vem caindo drasticamente, ficando em outro patamar de preço”, admite. Ele explica os motivos: “Viemos de uma safra de soja robusta, com problema de logística e de armazenagem. Isso se replica no milho”.
Para o consultor, a safra de milho deve ser semelhante à realidade verificada na soja: grande produção, acarretando problemas de espaço e de logística. “Então, o mercado vem antecipando esse movimento, gerando reflexos imediatos no valor da saca do milho”.
A safra do Mato Grosso está em fase de colheita, o mesmo ocorrendo em Goiás. No Paraná e no Mato Grosso do Sul, por conta das mais recentes chuvas, o mercado tende a sofrer uma pressão e a confirmação do tamanho da safra. “O mercado do milho vem para uma nova realidade, baseada em uma superprodução”.
Com relação à paridade de exportação, os preços estão próximos dos R$ 60 a R$ 63. Para o interior, o valor oscila entre R$ 47 e R$ 55, com perspectiva desses valores sofrerem mais uma queda, no auge da entrada da safra. “Ainda continuaremos com o cenário baixista de preço, no que tange ao mercado interno”.
Mercado externo
Com relação ao mercado externo, o centro das atenções é os Estados Unidos, o maior produtor de milho do mundo. Hoje, praticamente 90% das áreas já foram plantadas. A previsão de chuvas por lá é a partir do dia 10 deste mês. “Um bom retorno das chuvas, em pleno desenvolvimento do milho, caracterizando uma tendência de safra cheia”.
Na Europa, China e Hemisfério Norte como um todo, o plantio do milho mostra-se dentro da normalidade, com condições favoráveis para o desenvolvimento das lavouras para os próximos meses. “Temos a perspectiva de acelerar as nossas exportações, a fim de equalizar esse excesso de oferta no mercado interno”.
Ainda sobre os bullet points do milho, ainda há efeitos gerados pela guerra travada entre Rússia e Ucrânia, este último também importante exportador de milho. “Se a China tem um alinhamento com a Rússia, acaba por comprar mais milho da Ucrânia e menos dos Estados Unidos e Brasil, provocando essa pressão baixista”.
O clima na Europa ajuda na produção, o mesmo nos Estados Unidos e Brasil. “Temos visto grandes players ofertando muito milho para abrir espaço. Todo esse cenário culmina para ver os preços caírem mais forte em patamares diferentes do que observamos nos últimos dois anos”.
A gripe aviária e os reflexos no milho
Mesmo que seja no campo das especulações, no caso de contágio por gripe aviária em lotes de aves comerciais, existe uma possibilidade dessa realidade também ser sentida no cereal. “Mesmo que ocorra a contaminação no plantel industrial e comercial, impactaria pouco na exportação”, avalia o consultor da StoneX, Leonardo Martini Lima. O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. “Vários outros países contam com o vírus H5N1 circulando nos lotes comerciais e mesmo assim, continuam exportando”.
O surgimento deste vírus nas aves comerciais do País pressionaria ainda mais os preços das sacas de milho e uma inundação do grão no mercado. Outra consequência seria uma queda nas exportações e muita carne de frango no mercado doméstico. “Mas tudo isso são conjecturas”.
Conforme informações d a Granoeste, os mercados globais seguem com sentimento negativo com relação ao milho, em virtude dos dados econômicos chineses abaixo das expectativas, reduzindo o consumo naquele país, além do bom andamento do plantio nos Estados Unidos. Há relatos de ausência de chuvas em regiões importantes do meio-oeste. Apesar de o tempo seco ser favorável à finalização do plantio.
Custo de produção de proteína animal está em queda no Paraná
A baixa nos preços do milho e da soja está refletindo diretamente na queda do custo de produção de algumas proteínas animais como suínos e frangos, além do leite produzido no Paraná. Os dois grãos, que estão entre os mais cultivados no Estado, são essenciais na alimentação animal.
A análise desses custos e informações sobre o desenvolvimento de outras culturas agropecuárias fazem parte do Boletim de Conjuntura Agropecuária, preparado pelos técnicos do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, referente à semana de 26 de maio a 1º de junho.
O custo médio de produção de um quilo de suíno vivo em 2022 foi de R$ 7,44. Nos primeiros quatro meses deste ano o valor caiu para R$ 6,71, o que representa redução de quase 10%. A alimentação, que sozinha teve baixa superior a 13%, representa praticamente 80% de todo o custo produtivo.
No caso da bovinocultura de leite, a redução no custo de produção em abril deste ano foi de 1,3%, comparativamente com o mês anterior. No entanto, a escassez de oferta no campo e a competição pelo produto impulsionam o preço pago ao produtor, atualmente em R$ 2,94 o litro no Paraná. Nos preços atuais, o produtor precisaria de 18,5 litros de leite para comprar uma saca de milho. Em maio do ano passado ele precisaria do dobro, no mínimo, para pagar a mesma saca. A redução nos custos com alimentação pode ajudar o produtor a enfrentar melhor a entressafra e evitar aumento exagerado nos preços ao consumidor.
O boletim também retrata a análise da Embrapa Suínos e Aves, que verificou queda de 6% no custo de produção do frango no Paraná em abril deste ano, comparativamente com o mês anterior. De um valor médio de R$ 5,30, o quilo caiu para R$ 4,98.
Foto: Arquivo/Vandré Dubiela