Marechal Cândido Rondon – Apesar de considerada uma decisão tardia, o anúncio feito na terça-feira pelo ministro da Agricultura e Abastecimento, Blairo Maggi, de vetar o leite em pó importado do Uruguai causará reflexos instantâneos no campo e na cidade em toda a região oeste do Paraná.
O assessor técnico da Câmara de Bovinocultura de Leite da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Nordon Steptjuk, considera a medida vital para a sobrevida dos produtores de leite brasileiros. “É uma decisão importante, mas olhamos com certa cautela, temerosos em relação à continuidade desse veto”, revela.
O presidente da Associação Leite Oeste, com sede em Marechal Cândido Rondon, Rodrigo Bellé, acredita na estabilidade dos preços pagos ao produtor.
O fator positivo, destaca, é justamente o veto ao leite em pó do Uruguai, que havia comprometido a demanda da produção local, provocando uma queda violenta nos preços.
Contudo, o setor trabalha ainda com um fator negativo. É que a estiagem prejudicou a alimentação do rebanho e aumentou os custos. “A proibição ao leite uruguaio deveria ter sido adotada muito antes, de preferência na época de ápice na produção paranaense, aproveitando o período de inverno”, salientou.
Prejuízo em números
Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras mostram que o Brasil comprou 86% da produção de leite uruguaio em pó desnatado e 72% do integral neste ano. No primeiro semestre, foram importadas 41,8 mil toneladas de leite em pó. Vale ressaltar que as exportações do leite em pó representam 25% de tudo que o Uruguai comercializa para o Brasil.
Em contrapartida a essa importação, o leite brasileiro foi literalmente jogado no lixo.
Conforme o ministro Blairo Maggi, a medida será mantida até que o Uruguai comprove a procedência do leite.
Para Rodrigo Bellé, a pressão da bancada ruralista surtiu resultados: “Não é de hoje que reclamamos dessa competitividade desleal e das ameaças envolvendo a origem do leite uruguaio”, destacou.
Essa medida deverá fazer com que as multinacionais adotem uma postura de fidelização de produtores de leite brasileiro para ter acesso a matéria-prima de qualidade.
Reflexo nos preços
O reflexo nas gôndolas dos supermercados também deverá ser sentido nos próximos dias. Hoje o litro do leite pago ao produtor não passa de R$ 1,05, mas chegou a ficar abaixo de R$ 1 mesmo no período de entressafra. Para cobrir os custos de produção, o ideal seria um valor de R$ 1,25. “Essa é uma das causas responsáveis pelo êxodo na atividade”, afirma Rodrigo Bellé, que é justamente um dos pecuaristas que abandonaram a atividade, devido ao péssimo momento. Ele chegou a produzir média diária de 1,7 mil litros de leite.
Na região de abrangência da Leite Oeste, que congrega 14 municípios da região, a produção já chegou a atingir 1 milhão de litros ao dia, quatro anos atrás. “Mas essa realidade mudou muito atualmente”.
A falta de incentivo ao setor também provocou uma debandada na atividade na região: “Todo dia escuto de um produtor de leite que não estava mais aguentando e por isso abandonou o segmento”, lamenta.
Paraná é o segundo em produção de leite no País
Atrás apenas de Minas Gerais, os produtores de leite paranaenses são responsáveis pela segunda maior produção no território brasileiro, de acordo com levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O Paraná aumentou a produção em 75% nos últimos dez anos, saltando de 2,7 bilhões de litros em 2006 para 4,7 bilhões de litros em 2016. No Brasil, em 2016, foram produzidos 33,6 bilhões de litros, queda de 2,8% em relação a 2015. O VBP (Valor Bruto da Produção) indica uma produção leiteira no Estado de 4,8 bilhões de litros de leite, gerando um faturamento bruto de R$ 6 milhões.
Clima
A crise no setor e o clima fizeram despencar a produção de leite no Brasil, de acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento). A estiagem em algumas regiões brasileiras, a exemplo do oeste paranaense, e o excesso de chuvas em outras, além da elevação dos custos de produção, também foram fatores que fizeram a produção despencar.
O Brasil conta com mais de 1 milhão de produtores de leite, a maioria com aptidão para a agricultura familiar, gerando 4 milhões de empregos no campo.
Um clamor antigo
O assessor técnico da Câmara de Bovinocultura de Leite da Faep, Nordon Steptjuk, diz que a proibição ao leite do Uruguai é um clamor antigo do setor produtivo: “A defesa é pelo estabelecimento de uma cota das importações, garantindo planejamento futuro para o setor”.
Apesar de considerar a medida benéfica, Steptjuk afirma que ela deve vir aliada a um posicionamento que permite ao produtor, à indústria e ao setor nacional, se programar melhor: “O Brasil tem potencial e precisa buscar o mercado externo, com a exportação de produtos lácteos, visando promover o equilíbrio para o mercado. Mas precisamos evoluir muito ainda”.