A unidade de Demonstração de Biogás e Biometano, instalada nas dependências da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), produziu 17.458 m³ de biometano em 2018, volume suficiente para abastecer a frota dos 80 veículos da binacional movidos a este combustível. Ao longo do ano, os carros percorreram 210 mil quilômetros, o equivalente a cinco voltas no Planeta Terra. A planta foi inaugurada em junho de 2017 pela Itaipu em parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás).
Para produção do biometano, foi feito o tratamento de todo o resíduo orgânico gerado nos restaurantes internos da hidrelétrica, além de parte da poda da grama e de outros materiais enviados por entidades parceiras. No total, foram tratadas 155 toneladas de resíduos. Como subproduto, foram produzidos 48 mil litros de biofertilizante, que é usado como adubo nos canteiros e gramados da usina. Ao longo do ano, foi evitada a emissão de 1.260 kg de gases causadores do efeito estufa.
“A planta de biometano é uma experiência de sucesso porque mostramos que é possível dominar a tecnologia de produção deste gás. Itaipu é, hoje no cenário nacional, umas das instituições que mais se destacam em relação à gestão adequada dos resíduos e a transformação de um passivo ambiental em um recurso para mobilidade”, considerou o chefe da Assessoria de Energias Renováveis de Itaipu, Paulo Afonso Schmidt.
Parcerias
Até junho do ano passado, o abastecimento da frota de veículos a biometano de Itaipu tinha a contribuição do biometano produzido em uma planta instalada na Granja Haacke, em Santa Helena, Oeste do Paraná. A Unidade Demonstrativa de Itaipu aumentou a produção e conseguiu ser autossustentável, principalmente, devido ao fornecimento de matéria-prima de outras instituições.
“Em 2018, nós fizemos parceria com algumas entidades como, por exemplo, a Polícia Federal, que nos enviou uma apreensão de feijão que estava sendo usada para carregar droga”, destacou a engenheira mecânica Larissa Schmoeller, analista de Projetos do CIBiogás. “Pegando resíduos de fora, além de aumentarmos nossa produção, nós podemos testar vários tipos diferentes de substratos para fazer pesquisas da viabilidade daquela matéria-prima”, concluiu.
Outra parceria foi com a Receita Federal que enviou uma carga de cigarro para ser usada como matéria-prima do biometano. “O cigarro se mostrou bastante útil. A Receita tem uma máquina que separa o papel e filtro do fumo, o que facilita nosso trabalho”, explicou Paulo Schmidt.
Segundo ele, a técnica de separação do fumo inspirou a equipe a adquirir uma trituradora para usar na poda de grama. A matéria-prima não estava sendo usada nos últimos meses devido a pouca eficiência na produção do gás. “É preciso quebrar a lignina, uma estrutura celulósica de proteção das plantas, para facilitar a ação das bactérias. Agora, com a trituradora, será possível fazer isso.”
Replicação
Inaugurada em 2017, a planta usa tecnologia 100% nacional e pode ser replicada em indústrias, cooperativas, hotéis, além de servir como política pública para as prefeituras resolverem o problema do lixo urbano e atenderem às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (criada pela Lei 12.305/10) de eliminar os lixões entre 2018 e 2021. O modelo pode se adaptar às diferentes escalas de produção devido ao material aplicado, fibra de vidro, e a forma que os biodigestores são montados, em módulos que permitem aumentar ou reduzir o tamanho do biodigestor, de acordo com a demanda.
A planta utiliza uma diversidade de matérias-primas, que são testadas inicialmente em laboratório. Dependendo do tipo do resíduo orgânico, ele pode ser triturado e misturado com outros. O material é, então, levado aos biodigestores, onde, a uma temperatura controlada em 37ºC, acontece a degradação da matéria-prima por microorganismos de forma anaeróbica (sem oxigênio). São 60 minutos dentro do biodigestor, gerando dois produtos: o gás e um substrato seco.
O substrato é tratado e usado como biofertilizante. Ele tem baixa carga orgânica e é rico em nutrientes, com alto teor de nitrogênio, fósforo e potássio, matérias-primas essenciais para recompor o solo. Este fertilizante é usado nas áreas verdes da Itaipu, como canteiros e gramados.
O biogás é levado para dois gasômetros flexíveis que têm a capacidade de armazenar até 500 m³ por dia. Dali, o gás passa pelo processo de refino. Assim como o petróleo, o biogás não pode ser usado de forma bruta, por ter contaminantes prejudiciais ao motor do automóvel. Na refinaria são retirados o gás sulfídrico (enxofre), CO2 e água. O produto final, com 96% de pureza, tem as características exatas do gás natural. O biometano é pressurizado em 150 bars, para poder ser armazenado, abastecer os cilindros dos veículos e ser utilizado.