LONDRES – Em julho, um terrorista em Nice jogou um caminhão contra uma multidão que celebrava o Dia da Bastilha, matando 84 pessoas. Em dezembro, outro lançou uma carreta numa feira de Natal em Berlim, deixando 12 mortos. Em Londres, as vítimas foram pedestres na Ponte de Westminster. Para especialistas, o último atentado com veículo é só mais um no modelo emergente de ataques com instrumentos simples e do cotidiano, mas realizados em locais que atraem atenção global.
? Os terroristas contam com ter muita gente assistindo,o que pode ser ainda melhor do que ter muitos mortos ? afirmou Frank Foley, especialista em terrorismo no Departamento de Estudos de Guerra na King?s College, em Londres. ? O autor parece ter escolhido armas relativamente rudimentares e não houve explosão, mas o alvo era muito proeminente, rapidamente tomando toda a imprensa. Londres 2203
Analistas britânicos dizem que o atentado também marcou uma saída do relativo sucesso britânico em se defender de ataques, particularmente em comparação com França e Bélgica. O Reino Unido tem sido razoavelmente tranquilo, acredita Steve Hewitt, que estuda vigilância e terror na Universidade de Birmingham. Exceções notáveis? Os ataques suicidas de 2005 em Londres e os assassinatos do soldado Lee Rigby, em 2013, e da deputada trabalhista Jo Cox, no ano passado. Hewitt sugeriu que a boa defesa dos britânicos se deve à perícia das forças de segurança, bem como a experiência com o terrorismo do Exército Republicano Irlandês (IRA).
? É difícil fazer uma afirmação de que o ataque represente uma escalada. É algo bastante raro no Reino Unido. É realmente um tanto surpreendente que não haja acontecido mais destes antes ? avaliou Hewitt, destacando o papel da estrita regulamentação das armas de fogo na redução de ataques em massa.
Naturalmente, porém, o risco de atropelamentos está sempre presente. Como se para alguém dirigindo na rua que decide jogar seu carro contra pedestres? A resposta tornou-se cada vez mais vital nos últimos anos, quando terroristas começaram a mudar táticas. No passado, o foco era em ataques em grande escala, que envolviam dezenas de pessoas e treinamento meticuloso. Mais recentemente, porém, grupos como Estado Islâmico e al-Qaeda defenderam mais atos espontâneos de terror, por todos os meios necessários. E enfatizaram o potencial dos automóveis não só como carros-bomba, mas como armas imprevisíveis.
Já em 2010, o ramo iemenita da al-Qaeda incentivou o uso de caminhões como uma arma. ?Usem-nos como uma máquina de cortar relva, não para cortar grama, mas para cortar os inimigos de Deus?. O artigo inclui dicas sobre como maximizar vítimas e escolher os melhores veículos. Em 2014, Abu Muhammad al-Adnani, porta-voz do Estado Islâmico, disse a espectadores: ?Se você não conseguir encontrar um explosivo ou uma bala, escolha o descrente quebrando a cabeça dele com uma pedra, matando-o com uma faca ou executando-o com seu carro.? Numa revista do Estado Islâmico, um artigo de novembro passado elogiava o uso de caminhões para causar um ?banho de sangue?.
? Chegamos a um ponto em que as organizações terroristas querem criar um ambiente no qual possam atingir qualquer lugar a qualquer momento, usando qualquer método ? disse um funcionário europeu de segurança a meus colegas no ano passado.