Cascavel – Ao mesmo tempo em que o TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Paraná dá continuidade às auditorias nas universidades públicas estaduais, deputados da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Estaduais do Paraná discutiram, em audiência pública realizada ontem em Cascavel, a autonomia da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e a total exclusão da possibilidade em aderir ao sistema Meta 4, já inserido em duas das sete universidades do Paraná.
Na maioria do tempo, os debates giraram em torno de críticas dos deputados estaduais ao Governo Beto Richa. Entre as mais duras e defendidas pelos parlamentares foi a da manutenção da autonomia das universidades, que desde o início do ano insistem em não fazer parte do Meta 4 – um software para gestão de folhas de pagamento, contratado pelo próprio Estado e gerenciado pela Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná). Por meio dele, é possível ter acesso detalhado aos salários pagos aos servidores contratados e concursados.
“Esta é uma luta em favor do ensino superior público, gratuito e de qualidade em nossas universidades estaduais. É uma luta que deve continuar porque há um ataque incisivo e mentiroso do governo contra o ensino superior no Estado”, destaca Pacheco, que mediou o debate.
Sindicatos dos professores e servidores técnicos também se pronunciaram contra o Meta 4. De acordo com a presidente do Sinteoeste (Sindicato dos Trabalhadores das Universidades do Oeste do Paraná), Gracy Bourscheid, a Unioeste já tem a característica de ser autônoma justamente para não ser um braço do governo e não ter nenhuma influência política. “A universidade é um lugar múltiplo, e nesse universo não há como implantar o Meta 4, que nada mais é que a tentativa do Estado em tentar manipular toda a gestão de RH dentro da instituição. Esse é só o primeiro passo”, comenta.
Contas bloqueadas
Das sete universidades estaduais, cinco delas, inclusive a Unioeste, tiveram as contas bloqueadas por não enviarem documentos solicitados pelo governo estadual. Com isso, alguns serviços foram prejudicados. “Não está vindo dinheiro para pagar as diárias dos motoristas, por exemplo”, diz o presidente da Adunioeste, sindicato que representa os docentes, Luiz Fernando Reis.
Desta forma, o governador deu prazo de até 45 dias para que o reitor Paulo Sérgio Wolff, o Cascá, apresente projeto de autonomia financeira da instituição. A decisão se estende também aos reitores da UEL (Londrina), da UEM (Maringá), da UEPG (Ponta Grossa) e da Unicentro (Guarapuava).
Indo contra a determinação estadual, o COU (Conselho Universitário) formou, na última sexta-feira (25), um grupo de trabalho para, segundo Gracy, desmistificar que na Unioeste não existe transparência nas folhas de pagamento, principal questionamento do governo e alvo da auditoria do TCE. “Se é isso que o Estado quer, vamos apresentar todos os dados. Não há nada escondido, isso é uma armadilha criada pelo governo para entrar na universidade. [A falta de transparência] é um problema que não existe”, afirma.
Faltou tempo aos estudantes
Das três horas de discussão, pouco tempo -ou quase nada- foi dedicado à fala de alunos. Apenas três deles, de uma plateia de mais de 800 ouvintes, sugeriram as mudanças necessárias para um ensino público de qualidade.
Entre eles estava o acadêmico do 4º ano de História Nicolas Pacheco. Segundo ele, o que vem preocupando os estudantes é a possibilidade de privatização da universidade pública. “Aplicar recursos em ensino superior público não é um gasto, e sim um investimento. Colocar a justificativa de que não tem dinheiro por conta da crise é inaceitável, já que a crise não é nossa, não podemos pagar por isso”, relata.