Cotidiano

Um dos maiores pianistas do jazz atual, Michel Camilo volta ao Rio

RIO – Um “enorme desafio para qualquer pianista de jazz”. É assim que o dominicano Michel Camilo, 62 anos, um dos maiores pianistas do jazz atual, classifica a tarefa de encarar o público apenas com seu instrumento — e nada mais. Pois é justamente o que ele vai fazer dentro da série Jazz All Nights, da Dell’Arte, domingo, no Teatro Municipal do Rio. Para se ter uma ideia da encrenca: dos 24 álbuns que já lançou, apenas dois são de piano solo: “Solo” (de 2005) e “What’s up” (2013).

— Prefiro gastar o tempo que for necessário até que a execução fique perfeita. Só vou quando acho que estou pronto para dizer algo novo, original — justifica o pianista, por telefone, de Nova York. — Esses meus dois discos são muito diferentes. O primeiro saiu depois do grande sucesso do disco “Live at the Blue Note”, de 2003. Era um disco duplo, que ganhou um Grammy. Eu me perguntava: “O que vou fazer depois disso?” Me decidi por algo mais íntimo, e fiz o “Solo”. Que, por sinal, tem quatro músicas brasileiras.

Lá estão “Minha” (Francis Hime), “Atrás da porta” (Chico Buarque e Francis), “Corcovado” e “Luíza” (ambas de Tom Jobim).

— “Luíza” eu escolhi porque vi Tom tocá-la no Carnegie Hall — diz Michel, que é amigo de músicos brasileiros como o percussionista Airto Moreira e a cantora Tania Maria, além de grande admirador do pianista Amilton Godoy, um dos fundadores do Zimbo Trio. — Ouvi a música do Zimbo Trio no rádio em Santo Domingo, eles tinham programas só de música brasileira. Foi importante entender as diferenças entre as batidas do samba, da bossa nova, do partido alto e do baião…

A parte rítmica foi o que mais o preocupou na preparação para as gravações de “What’s up”, em que ele buscou “a independência total entre as mãos”, com ênfase na esquerda.

— Trabalhei no ostinato de “Take 5” (tema do saxofonista Paul Desmond, um dos maiores sucessos da história do jazz na interpretação do quarteto do pianista Dave Brubeck) ao longo de um ano, de olhos fechados, para chegar à total liberdade — diz o pianista. — Meu plano era conseguir improvisar com a mão direita sem ter que me preocupar com a esquerda. E ainda deu para criar com a esquerda, não apenas repetir padrões.

O músico conta que “descobriu” a sua mão esquerda no começo da carreira internacional, quando fez um duo com o percussionista cubano Mongo Santamaria no Blue Note de Nova York:

— Foi aí que compus “Caribe”, a canção que Dizzy Gillespie gravou (em 1991). Hoje faço todo tipo de coisa maluca com a mão esquerda.

A última vez que Michel Camilo esteve no Brasil foi em 1992, no Free Jazz Festival.

— Pergunto-me sempre por que nunca voltei desde então. Foi maravilhoso — elogia o pianista, que chega com “um repertório estendido”. — Recentemente, estive tocando piano solo em grandes teatros na Europa e apresentei meu arranjo para “Manteca”, de Dizzy Gillespie, que a fez soar como se fosse tocada por uma big band.

Além de grande músico, Michel Camilo também é conhecido pelo apoio que deu a novos talentos do jazz, como a baixista e cantora americana Esperanza Spalding e a pianista japonesa Hiromi Uehara — atração seguinte do Jazz All Nights, com seu trio, em setembro, nos dias 25 (Teatro Municipal do Rio), 27 (Teatro Renault, em São Paulo) e 29 (Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre).

Num mundo em que as gravadoras têm uma importância muito menor do que quando começou sua carreira, ele não desanima. Ao contrário:

— Agora é mais importante do que nunca tocar ao vivo. Isso fez de mim um músico até melhor, porque não tenho mais de depender da venda de discos. Eu viajo nove meses por ano, para mim a música é a língua universal da alma.

Michel Camilo — Série Jazz All Nights

Onde: Teatro Municipal — Praça Floriano s/nº (4003-2330)

Quando: Dom., às 19h.

Quanto: De R$ 50 a R$ 250.

Classificação: Livre.