GENEBRA – Embora considerado tendência no mundo digital, o trabalho a distância ainda avança de forma desigual no mundo. Segundo relatório divulgado nesta quarta-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) com base em dados de 15 países, o percentual de funcionários que atuam de casa ou da rua varia de 2% a 40% da força de trabalho. O Brasil foi analisado para a elaboração do estudo, mas não há dados concretos sobre a adoção da prática no país.
Os autores destacam que a comparação é limitada pelas diferentes definições de trabalho a distância adotadas pelo mundo. Japão e EUA, por exemplo, lideram o ranking, mas somente quando considerado o trabalho ocasional, como o uso de smartphones e tablets em trânsito (e não apenas em casa). Quando considerados o trabalho mais frequente, de ao menos oito horas por dia, o percentual fica em 16%, no Japão, e 20%, nos EUA.
Na outra ponta da lista está a Hungria, com apenas 1% de trabalhadores a distância, segundo o levantamento mais recente, de 2014. Em 2006, esse percentual era ainda menor, de apenas 0,7%. A Argentina também se destaca entre os que menos adotam a prática, com incidência de 2%, segundo o relatório.
info trabalho a distanciaEmbora não haja dados concretos sobre o Brasil, os autores destacam que a tendência ainda é restrita no país, assim como ocorre em outro emergente: a Índia. ?No Brasil e na Índia, o interesse público em trabalho a distância tem crescido mais lentamente do que em outros países discutidos. Debates nacionais sobre os méritos e limitações do formato têm sido encorajados relativamente há pouco tempo no Brasil. Um fator central para esse debate é a preocupação crescente sobre a poluição do ar e congestionamento em áreas urbanas como São Paulo?, lembra o relatório.
De forma geral, a OIT avalia que a tendência do modelo é de crescimento desde o início dos anos 2000. Na França, por exemplo, o percentual de trabalhadores a distância subiu de 7%, em 2007, para 12,4%, em 2012. Já na Suécia, a fatia de empresas que permitem esse formato saltou de 36%, em 2003, para 51%, em 2014. ?Esta alta está possivelmente relacionada a fatores como crescimento da capacidade de dispositivos de comunicação, aumento de atividades baseadas em conhecimento, assim como redução de alguns fatores restritivos, como resistência de gestores?, destacam os autores.
Segundo o relatório, incentivar ou não o trabalho a distância está muito relacionado com as características de cada país. Nos EUA, por exemplo, o fenômeno começou nos anos 1970 ? impulsionado pelo setor de alta tecnologia na Califórnia. A legislação americana até prevê, por meio do Telework Enhancement Act (TEA), de 2010, que departamentos do governo permitam que todos os funcionários públicos federais possam trabalhar de casa.
?Hoje, o trabalho a distância é cada vez mais promovido nos EUA como um tipo de modelo de negócios que atrai talentos e reduz tempo e custos de transportes, além de custos associados a um escritório?, destaca o relatório.
Já a experiência japonesa tem outra explicação: o desafio demográfico. Segundo a OIT, o incentivo ao trabalho a distância no país é uma forma de evitar o enfraquecimento da força de trabalho. ?A queda de taxa de natalidade aliada ao envelhecimento da população e baixas taxas de emprego entre mulheres tem levado a um declínio na participação da força de trabalho nas últimas duas décadas. Em resposta a isso, agências públicas tem incentivado o trabalho a distância para incentivar a participação no mercado, particularmente entre mulheres com crianças pequenas?, aponta o estudo.
RISCO PARA TRABALHADORES
Para os autores, embora seja considerado uma tendência, principalmente entre economias mais voltadas para atividades relacionadas ao conhecimento, o trabalho a distância tem vantagens e desvantagens.
?Este relatório mostra que o uso de modernas tecnologias de comunicação facilita um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional mas, ao mesmo tempo, embaça as fronteiras entre trabalho e vida pessoal, dependendo do local de trabalho e das características de diferentes ocupações?, destaca Jon Messenger, coautor do estudo.
Já Oscar Vargas, pesquisador da Eurofound, uma das agências consultadas para o relatório, lembra que há riscos, principalmente envolvendo relações trabalhistas e segurança do trabalho.
?É particularmente importante abordar a questão do trabalho suplementar desempenhado por meio de tecnologias modernas de comunicação, por exemplo, trabalho adicional de casa, que poderia ser visto como uma hora extra não paga, e também garantir que os intervalos de descanso mínimos sejam respeitados, para evitar efeitos negativos sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores?, apontou, em nota.