A Venezuela chavista já emitiu incontáveis sinais de se encontrar em crise terminal. É fato, mas ela tem sido longa e desgraçadamente sofrida para a grande maioria da população. E à medida que o fundo desse poço se aproxima, o regime, com o presidente Nicolás Maduro, ungido por Hugo Chávez em vida, eleva o tom dos discursos com ameaças de mais autoritarismo.
O regime caminha pela via crucis clássica dos modelos assemelhados: sobre uma economia em ruínas, vocifera e ameaça com mais endurecimento. Mas não tem futuro, e seu desfecho dependerá de entendimentos que possam haver ? e é melhor que ocorram ? entre chavistas e oposição abertos ao diálogo. Na melhor hipótese. É a forma benigna de transição de ditaduras para regimes democráticos, como aconteceu no Brasil da primeira metade da década de 1980.
A oposição conquistou maioria na assembleia nacional, grande feito, porém Maduro deu um golpe no Legislativo, ao passar a governar com a Alta Corte venezuelana, aparelhada por chavistas. Outra situação que não se pode imaginar duradoura. Há pouco, ameaçou fechar a própria assembleia, o que será a etapa final de um efetivo golpe de Estado, uma tragédia ainda maior para os venezuelanos.
Enquanto isso, a oposição continua a recolher assinaturas para um referendo que retire Maduro do Palácio Miraflores. Para injetar mais tensão neste momento, o sucessor de Chávez decretou estado de exceção, para obter mais poderes. E fala abertamente que não aceita o referendo, um instrumento legal. Tanto que o ex-presidente do Uruguai José Mujica concluiu que Maduro ?está louco como uma cabra?.
Não é por falta de poder no Executivo que a Venezuela mergulha numa crise cada vez mais profunda. O que falta são alimentos nos mercados, produtos em geral de primeira necessidades, medicamentos em farmácias e hospitais. Nestes, inexistem 90% dos insumos necessários; nas farmácias, 80%.
O fim do ciclo do petróleo acima dos US$ 100 acabou por desestabilizar de vez o modelo do ?Socialismo do Século XXI?. Porém, mesmo que as cotações não tivessem caído tanto, para a faixa de US$ 30, a tentativa de Chávez, seguida por Maduro, de impor um sistema que já não deu certo no mundo, desestruturou de tal forma o país que a Venezuela estaria de qualquer forma em crise. Apenas, atenuada.
O país ostenta alguns dos piores indicadores do planeta: estima-se que a inflação, já a mais elevada do mundo, fechará o ano em 720%, enquanto o FMI projeta 2.200% para 2017; a recessão deste ano, também segundo o Fundo Monetário, deverá ser de 8%; estima-se que 49% dos venezuelanos estejam abaixo da linha de pobreza, a caminho da subnutrição. O chavismo coloca a Venezuela em crise humanitária.