“Nasci no Fundão, em Portugal, tenho 28 anos e já trabalhei como gestor de esporte e em vários eventos esportivos. Sou doutorando da Universidade de Lisboa e bolsista da FAPERJ. Passo uma temporada de seis meses no Rio, e avaliar a primeira Olimpíada da América do Sul é a minha medalha de ouro.”
Conte algo que não sei.
Fui conhecer a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, onde há uma imagem de Santa Bárbara muito bonita, que me fez lembrar de histórias de quando eu era pequeno. Ela é a protetora contra raios e trovões e, em Portugal, quando chovia muito, rezava-se uma pequena estrofe: “Santa Bárbara, bendita/No céu está escrita/Uma pinguinha de água benta/Alivia esta tormenta. Não sei se funciona, mas a minha avó contava que sim.
Você está pesquisando problemas organizacionais nos Jogos do Rio. De que forma tem trabalhado?
Após muita leitura sobre as cinco mais recentes Olimpíadas, identifiquei 12 categorias de problemas, num total de 89 mencionados nos últimos 20 anos. Por exemplo: problemas políticos, financeiros, organizacionais, infraestruturais, sociais, ambientais, de legado. Resolvi investigar três: ambientais, operacionais e infraestruturais. Depois que cheguei ao Rio, decidi pesquisar também o sistema de transportes da cidade, em parceria com a universidade Unisuam.
Como é feita essa análise?
Estou pesquisando o apreço das pessoas pela qualidade dos transportes antes e depois da Olimpíada, em categorias como disponibilidade, congestionamento, o alto nível da poluição ambiental, a deficiência de infraestrutura, a falta de pessoal, de informação, de tecnologia, e a segurança dentro e fora dos modais.
Que problemas você constatou na avaliação dos relatórios oficiais das cinco últimas Olimpíadas?
Em Pequim (2008), por exemplo, houve problema com o credenciamento dos atletas. E a cidade continua muito poluída, mesmo tendo conseguido reduzir 60% do congestionamento da cidade após os jogos. A cem dias da Olimpíada, Atenas (2004) foi alvo de um atentado, com a explosão de três bombas. Dois dias antes da abertura da Olimpíada de Atlanta (1996), um avião caiu em Nova York, matando 230 pessoas. Também houve abandono de voluntários durante os jogos.
E quais foram os jogos mais organizados?
Londres, sem dúvida alguma. O Olimpíada foi planejada 25 anos antes pelo governo inglês. Mas também teve problemas organizacionais e sociais. Sobretudo com a comunidade de Portland (onde ocorreram as provas da vela). Parte dos residentes foi deslocada do lugar onde viviam para dar lugar a instalações dos jogos. Houve greve de taxistas contra as faixas de trânsito olímpicas.
Você mora em Lisboa e está no Rio há dois meses. O que mais chamou atenção aqui?
Achei as pessoas muito acolhedoras e simpáticas. Mas a cidade tem problemas sociais visíveis a olho nu. O Rio está perdendo empregabilidade. Como quis ficar dentro do coração e da cultura brasileiros, vivo numa casa de família em Ipanema, onde há pessoas em situação de instabilidade financeira. E, há alguns anos, elas não estavam.
Você teve dificuldade para entender o português do Brasil?
É mais difícil vocês perceberem o que eu digo do que eu perceber vocês. Não tive dificuldade nenhuma de vos compreender. Há pequenas palavras que vocês falam que tenho necessidade de perguntar o que é. Foi difícil entender a história do “calma, pô!” (risos).