Cotidiano

Thomas DiPrete, sociólogo: 'Podemos diminuir o poder dos estereótipos'

201607061230412338.jpg “Nasci e cresci em Providence, em Rhode Island. Formei-me no MIT. Meu pai é italiano e minha mãe é metade francesa e metade irlandesa. Quase concluí a faculdade de Física, mas não era o que queria. Optei por Sociologia e fui para a Universidade de Columbia, onde leciono hoje. Tive meu primeiro emprego em Chicago, onde conheci minha esposa.”

Conte algo que não sei.

No contexto americano, a desigualdade de gênero que vemos no fim da faculdade já pode ser percebida também no ensino fundamental. Você pode prever, com clareza, se alguém vai terminar a faculdade baseado no desempenho no sétimo ou no oitavo ano. O interessante é que nem alunos nem professores parecem notar isso. Não captam a mensagem do sistema de que passar pela faculdade é como treinar para uma maratona. Você não pode decidir uma semana antes.

Como surgiu sua pesquisa?

Quando minha filha mais nova estava no sexto ano. O superintendente das escolas distritais decidiu organizar um evento para os alunos do ensino fundamental da região com boletins excelentes. Kathy, minha esposa, e eu estávamos observando uma menina após outra recebendo diplomas intercaladas por eventuais meninos. E a diferença entre os dois grupos era tão grande que voltei para (a Universidade de) Duke, onde lecionava à época, e conversei com minha colega Claudia Buchmann, que estuda Educação. Vi que aproximadamente 70% eram meninas. Eu disse a Claudia: “Precisamos fazer um estudo sobre isso”.

Nesse contexto, que diferenças você vê nos EUA, na Europa e no Brasil?

Uma delas é que, com muita frequência ao redor do mundo, percebe-se que a desigualdade de gênero na educação ou está caindo ou já se reverteu. Por outro lado, na medida em que essa mudança ocorre, quando você observa os campos de estudo que os jovens escolhem na faculdade, ainda há uma lacuna: homens são mais inclinados a se interessar por ciências exatas do que mulheres. É aí que entra a ironia de que mulheres estão recebendo mais educação. Na verdade, isso ocorre em áreas que não pagam tão bem no mercado.

E a desigualdade persiste.

A “vantagem educacional” que elas teriam é, em alguma medida, reduzida por conta da desigualdade salarial. Por que isso ocorre? Há um estereótipo de que homens são melhores em matemática e mulheres são melhores em leitura. Na verdade, mulheres são, sim, melhores do que homens na leitura, mas a vantagem masculina em ciências matemáticas é muito pequena.

E de onde vem isso?

É complexo. Jovens mulheres tendem a manter padrões mais elevados do que os homens, mas, mesmo quando estão no mesmo nível, elas estão inclinadas a pensar que não são tão boas quanto eles. E uma das razões para pensarmos que a desigualdade de gênero em ciências exatas existe é a orientação para o mercado de trabalho. Mulheres tendem a prestar menos atenção às consequências das decisões delas quando estiverem no mercado de trabalho. E essa é uma das principais razões para a diferença de gênero nas ciências exatas.

Acredita que teremos uma sociedade sem desigualdade de gênero na educação?

Acredito que temos que viver numa sociedade que permita às pessoas seguirem seus interesses sem impedimentos. Em certa medida, essa desigualdade em ciências exatas surge de impedimentos ligados a estereótipos de gênero. Não acho que esses estereótipos sejam úteis, e acredito que podemos diminuir o poder deles na vida das pessoas. As pessoas são mais felizes quando conseguem atingir seus objetivos e não se arrepender aos 35 anos. Então, não sei se o objetivo é necessariamente igualdade exata. Pode até ser. Eu sou mais a favor de fazer progressos.