Cotidiano

?Tem que ter nervos de aço?, diz Aloysio Nunes sobre delação da Odebrecht

INFOCHPDPICT000065677572BRASÍLIA ? Em entrevista ao GLOBO, o novo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, disse que todos os que serão atingidos pelos pedidos de inquéritos decorrente das delações de Odebrecht vão precisar “ter nervos de aço” para enfrentar o tsunami da Lava-Jato. Para o ministro, é um exercício fútil tentar prever o quadro eleitoral de 2018, e não existirá um ?salvador da pátria? nas eleições. Lava-Jato – 10.03

Os desafios de Aloysio Nunes no Itamaraty

Na próxima semana, deve haver um terremoto na área política com a revelação da nova lista de investigados da operação Lava-Jato pelo STF . Como deixar que isso não faça o governo voltar a patinar na suas conquistas?

Não vai voltar a patinar. O presidente Temer já mostrou o seu limite. Tem lá a doutrina Temer. Tem que ter nervos de aço. Sabemos que muitas dessas menções nas delações não vão se transformar sequer em inquérito. Muitos inquéritos serão arquivados e muitas denúncias e muitos réus serão absolvidos. Outros serão condenados. É um processo longo.

O senhor teme ser citado?

Temo. Sabe porque? Porque chateia.

O senhor acha que pode ser mencionado?

Eu? Eu acho que posso. Quem fez campanha política nos últimos anos no Brasil, no momento em que era possível você ter recursos de empresas privadas na política, pode ser mencionado agora. Eu tenho plena consciência que eu nunca troquei medidas administrativas nos postos que eu ocupei, nunca tive nenhum questionamento e nenhum (problema com) Tribunal de Contas, nunca ninguém ousou sequer me pedir algum tipo de contrapartida em ação política de iniciativa minha. Eu tenho plena consciência disso. Agora, ser mencionado chateia. Agora mesmo tem um inquérito, eu sou investigado, um inquérito que foi instaurado há mais de ano e não se conclui. Apesar de tudo ter sido esclarecido. Apesar de o empresário (Ricardo Pessoa, da UTC), que segundo uma delação teria dado R$ 200 mil de caixa dois para mim, esse próprio empresário disse: eu nunca tratei de depósito de campanha com senhor Aloysio nunes Ferreira. Estive com ele apenas uma vez. E nunca falamos disso.

O senhor está sendo castigado pelo foro, já que no Supremo os processos demoram muito?

Nem sequer foi para o Judiciário. Está na polícia. Então isso aí vai acontecer. O importante é saber que com Lava-Jato ou sem Lava-Jato nós vamos chegar em 2018 com o Brasil razoavelmente em ordem. Então esse é o mundo político que nós temos, com o qual nós temos que trabalhar.

O senhor é uma das quatro lideranças mais fortes no estado de São Paulo do PSDB. E agora está se falando de delações em São Paulo. O senhor acha que é um novo capítulo que pode desgastar o seu grupo político?

Não sei. Tem que ver. As obras que eu conheço foram realizadas no tempo certo. No preço certo, preço justo e contratadas em licitações que nunca foram contestadas.

Como o senhor vê o Congresso voltar a debater anistia e rediscutir o caixa dois, depois do senador Valdir Raupp ter virado réu, acusado de receber propina em doação oficial?

É impossível isso. Você achar que alguém que recebeu uma contribuição nos termos da lei, de uma empresa que já está sob investigação, necessariamente recebeu propina, então não tem saída. Agora, é claro que isso tem de ser provado, tem de ter o processo e tentar ter um inquérito. Eu acho o seguinte: não se anistia o caixa dois porque caixa dois como tal não é crime. O Ministério Público vai encontrar outras formas de processos como corrupção, lavagem, formação de quadrilha. Então é uma coisa inútil. É um debate inútil. Sem consequência prática ou jurídica. O que está havendo é muito mais complicado que uma situação política. É a criminalização da atividade política. É o problema da má utilização de fatos apurados e de investigações que deveriam ser sigilosas e que vão parar imediatamente nos jornais. Está se criando um clima no Brasil que daqui a pouco um delegado não vai ter mais coragem de mandar um projeto para o arquivo. Um procurador não vai ter mais coragem de pedir absolvição ou de deixar de denunciar e o juiz não terá mais coragem de não condenar.

E esse ambiente é favorável para um salvador da pátria em 2018?

Não tem salvador da pátria no Brasil. Nem isso. Eu acho que a eleição de 2018 será contaminada. Na eleição municipal nós já tivemos candidatos que se elegeram com discurso de não ser político. Para mim o mais emblemático deles é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Agora, eu não vejo quem possa ser candidato a salvador da pátria. Quem?

O deputado federal Jair Bolsonaro?

É diferente. O Bolsonaro tem um ideário muito limitado a duas ou três coisas. É a exaltação do regime militar, é a homofobia e a briga com as feministas. É isso que ele é. Não tem um projeto e nenhuma proposta diferentemente de outros líderes de direita que aqui no Brasil e outros países tiveram.

O prefeito João Doria já figura bem nas pesquisas. Ele tem chance de ser o candidato do PSDB?

Não sou capaz de imaginar 2018. Quem estará melhor colocado em 2018? É um exercício fútil. Porque a situação dos possíveis candidatos, seja da situação ou da oposição, está condicionada com a Lava-Jato, mas principalmente com a crise. Nós temos várias barreiras pela frente. Nós temos reformas a serem implementadas.

E o ex-presidente Lula, tem chance?

Se o Lula tem chance? É claro que o Lula tem chance. O Lula é um líder forte, importante, que vende bem o peixe dele. No PT, foram responsáveis pela disseminação na forma de um septcemia (na economia brasileira). Agora você vê o Lindbergh falar parece o (procurador Deltan) Dallagnol. É uma coisa inacreditável! É o tipo de vigarice intelectual e política que de repente pode pegar. Sobretudo na boca de um demiurgo