LONDRES ? Quando John Hodge assistiu pela primeira vez a ?T2 Trainspotting?, que ele escreveu, não pôde deixar de notar como muitos dos grandes do esporte e da música no filme já haviam morrido. Johan Cruyff, visto executando sua famosa volta no início da história, morto; George Best, de quem Renton e Sick Boy falam de maneira adulatória tanto por sua vida amorosa quanto por seu breve tempo jogando pelos Hibs, morto; Lou Reed, cujo ?Perfect day? é ouvido brevemente na trilha, morto; Joe Strummer, do Clash, morto; David Bowie, cujos álbuns Renton tanto aprecia, morto. E a lista segue.
? Realmente, não tinha me ocorrido até depois, a mortalidade… Há tantas pessoas mortas no filme ? reflete, alegremente, Hodge. ? Essas são as pessoas que Renton e Simon (Sick Boy) cresceram idolatrando, e todos estão desaparecendo. Para mim isso é parte do filme, a perda. É do que fala Renton, as pessoas que você ama… Vão desaparecendo.
Como as observações de Hodge sugerem, qualquer um que assiste a ?T2? à espera apenas de travessuras pode se surpreender. O filme lança um olhar desesperado e cômico sobre a masculinidade e a meia-idade.
? Os jovens tendem a ser mais imprudentes e autodestrutivos. Sabemos no cinema que observar as pessoas sendo imprudentes e autodestrutivas pode ser muito divertido… Mas, quando chegamos aos 40 ou 50 anos, você não é tão imprudente e autodestrutivo. E, se você é, não é algo tão admirável. É mais trágico ? explica Hodge. ? A vida pode ser terrível quando você tem 20 anos e ainda há esperança. A vida pode estar bem quando você tem 50 anos, mas não há esperança!
Hodge, o médico que virou roteirista, admite que, há 20 anos, nem sequer consideraria fazer outro ?Trainspotting?. Foi só quando Irvine Welsh escreveu ?Porno?, sua continuação de ?Trainspotting?, em 2002, que o diretor Danny Boyle pensou pela primeira vez que outro filme poderia ser possível. Hodge fez um primeiro rascunho de roteiro:
? Não ficou muito bom. Acho que era muito cedo para fazer qualquer coisa. Trailer ‘T2: Trainspotting’
Foi Boyle quem, dois ou três anos atrás, sugeriu que deveriam tentar novamente. Os atores se comprometeram com o projeto ? e ficou com Hodge a tarefa de chegar a um roteiro que agradasse a todos.
Por alguns instantes, Hodge soa como o médico que ele era. Voltando ao tema do primeiro ?Trainspotting?, pergunto se ele poderia imaginar um terceiro filme (se Irvine Welsh permitir), talvez um último em que os velhos companheiros ainda se comportassem mal.
? Deus, espero que não! Só a dor de cabeça de pensar o que eles poderiam fazer… ? diz ele, para em seguida reconsiderar. ? Eu não iria descartar essa opção, suponho.