Cotidiano

Só um descompasso muito grande tira Oscar do musical ?La la land?

SÃO PAULO – Principais indicadores do que pode ocorrer no Oscar, os prêmios do Sindicato de Produtores (PGA) e do Sindicato de Atores (SAG), neste fim de semana, em Los Angeles, apontaram duas coisas importantes. Primeiro: em uma safra de recorte majoritariamente “independente”, a hegemonia de “La la land: cantando estações” como provável vencedor da estatueta de melhor filme no fim de fevereiro segue inabalável. Segundo: Hollywood não está para brincadeira quando se trata de assumir uma posição política como um dos setores mais representativos da sociedade americana e vai representar esse papel de forma implacável.

O musical de Damien Chazelle foi o grande vencedor do prêmio concedido pelo Sindicato dos Produtores, que é o principal responsável pela votação do Oscar de melhor filme. Considerando que no passado recente houve apenas uma discordância entre as duas premiações, com “A grande aposta” vencendo o PGA e “Spotlight: segredos revelados” a estatueta da Academia no ano passado, é de se supor que só uma surpresa causará descompasso nessa partitura.

Quem pode desafinar a melodia entoada por “La la land”? Os principais candidatos a esse feito são “Manchester à beira mar”, que traz Casey Affleck no papel de um pai de família que sofre uma perda quase insuperável, e “Moonlight: sob a luz do luar”, que revela a luta de um rapaz gay para se manter vivo e íntegro dentro de uma comunidade hostil. Em comum aos três filmes, está o investimento nos atores e em interpretações que são o sustento de suas tramas e narrativas.

O que nos leva aos prêmios do Sindicato dos Atores e explica por que filmes não tão celebrados como “Um limite entre nós” e o “Estrelas além do tempo” acabaram se destacando. Embora divida opiniões, o primeiro valeu a Denzel Washington o prêmio de melhor ator, e a Viola Davis o de melhor atriz coadjuvante. O segundo deu aos atores do filme, cujo núcleo central é formado por mulheres negras, uma das láureas mais importantes da premiação, o de melhor elenco.

De resto, o SAG confirmou o que se falava em boa parte das críticas e análises sobre precisões do Oscar. Emma Stone, que levou o prêmio de melhor atriz, é um dos motores de “La la land”. E Mahershala Ali, mesmo com uma participação secundária, dá relevância ao seu trabalho em ?Moonlight?. Difícil fazê-los desviar de seu caminho em direção à estatueta dourada.

Os discursos dos vencedores nas duas cerimônias mostraram por que esses prêmios são importantes e relevantes não apenas para a indústria da qual fazem parte. São tribunas das quais os cineastas, atores e técnicos podem se fazer ouvir em escala mundial, muitas vezes passando mensagens de otimismo, solidariedade, alerta e afirmação. As palavras de Ali sobre aceitação das diferenças, um dos discursos de aceitação mais reproduzidos nas redes sociais, comprovam que muitas vezes os artistas têm muito mais a dizer a respeito da realidade que nos cerca — não só em Hollywood.