Cotidiano

Shinobu Saito, violinista e professora: 'Música e psicologia estão fortemente relacionadas'

“Nasci em 1947, em Yokohama, e vim morar no Brasil. Sou doutora em música pela Universidade de Iowa, especializada em violino. Uso o método Suzuki, que ensina música clássica por meio de brincadeiras. Acredito que ensinar música brincando pode ser fundamental no combate a traumas”.

Conte algo que não sei.

O ensino da música para crianças no Japão contribuiu muito para a recuperação de famílias no cenário pós-Segunda Guerra Mundial. Atenuava o sentimento de tristeza dessas famílias, afetadas pela fome e pelo desemprego. Havia uma pequena reconstrução de felicidade em torno das crianças que tocavam, e o método Suzuki surgiu nesse contexto.

E como funciona?

Todas as aulas são por meio de brincadeiras, mas a primeira coisa que ensinamos é a concentração. Ao treinar os movimentos de corpo utilizando essas brincadeiras, os alunos nem percebem o tempo passar em função dessa concentração na atividade proposta. Depois, todos os movimentos aprendidos são aplicados nas aulas de violino.

Esse exercício da concentração ajuda fora da sala de aula?

Sem dúvida. Quando uma criança não vê uma atividade como obrigação, isso pode ajudá-la naquelas que são obrigatórias, como as da escola.

Os pais também têm um papel determinante, não?

Toda a educação começa com os pais. Ter aula uma vez por semana não é o suficiente. Os alunos vão ao centro para mostrar o resultado do trabalho de uma semana. A maioria começa aos 5 anos, e crianças nessa idade não conhecem exatamente o conceito da palavra estudar. É aí que entra a repetição, que permite o domínio do movimento.

Adultos também são capazes de aprender brincando?

Temos cerca de 15 adultos, alguns já aposentados. O princípio é o mesmo, mas a teoria é um pouco mais explorada, até porque o entendimento dos adultos é mais metódico, enquanto crianças são mais intuitivas.

Música e psicologia têm uma relação?

As duas são fortemente relacionadas. Qualquer atividade de lazer tem efeitos psicológicos positivos e, ao mesmo tempo, esse bem estar proporciona um aprendizado melhor. Aprender de forma prazerosa é chave para aprender mais rápido.

Para uma criança, como o aprendizado de algo que exige anos de prática, como o violino, pode ser prazeroso?

O simples reconhecimento do esforço pelos pais é o maior incentivador. É até mais importante do que o reconhecimento do êxito, pois o esforço representa o caminho, e o êxito, a linha de chegada. Ninguém alcança um objetivo se perder a motivação no processo. Nesse método, somos um triângulo equilátero: pais, alunos e professores.

Como esse mesmo esforço é reconhecido nas aulas?

O bem estar do aluno é o mais importante. Não somos uma escola profissionalizante. É uma filosofia baseada na resolução de dificuldades. Se algum aluno tem dificuldade em um determinado trecho de uma música, esse trecho será dividido em partes menores até que ele possa aprendê-las. Sempre que algum objetivo é alcançado, ele recebe algum prêmio. No ensino tradicional, o esforço não costuma ser reconhecido, mas crianças aprendem melhor quando são elogiadas.

É importante trazer músicas do universo infantil, como canções de desenhos ou filmes?

A cultura pop está sempre presente nas aulas, e é importante para o aprendizado do repertório clássico. Um aluno traz algo de Star Wars, por exemplo, e um outro, que nem conhece os filmes, ouve aquela música e se interessa em aprendê-la, e até em conhecer a obra. Essa é a grande magia da conexão entre as artes.