Movimento prevê acampamento de 10 mil famílias em áreas invadidas até 2018
Catanduvas – Ao menos 10 mil famílias que fazem parte hoje do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) no Paraná e que não estão em um pedaço do chão estarão colocados até 2018. A “promessa” é de líderes do próprio movimento, colocados até 2018.
O grupo planeja o que pode ser uma invasão de terras em massa no Estado e o mapeamento de todas elas, com a caracterização desses locais a serem ocupados, já constariam num levantamento minucioso e detalhado feito pelo próprio MST.
O secretário especial de Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli, diz desconhecer esse plano e afirma que, “neste momento, a situação agrária no Estado é pacífica e está sob controle”.
Mas a realidade no campo está longe disso na região oeste. Um grupo de pelo menos 200 famílias, totalizando mais de 350 pessoas, que viviam até então em acampamentos agora reintegrados, principalmente nas cidades de Cascavel e São Miguel do Iguaçu, invadiu ontem às 6h a Fazenda Besouro, em Catanduvas. Essa é a segunda ocupação de terra em pouco mais de duas semanas na mesma região. O outro local invadido, também pelo MST, fica perto do trecho de ontem e tem cerca de 50 famílias alojadas em barracos.
Na propriedade invadida nessa terça-feira, onde as bandeiras do movimento já indicam a presença dos sem-terra, há de 75 a 80 alqueires com pastagem acomodando gado de corte no sistema de arrendamento.
A fazenda não é improdutiva, mas pertencia a uma família cuja parte de seus membros foi presa em 2012 durante a operação da Polícia Federal intitulada Vera Cruz. Na época, a operação desarticulou uma quadrilha internacional que traficava cocaína e abastecia os principais grupos criminosos do País, inclusive o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Como as investigações teriam provado que a área foi adquirida com dinheiro do tráfico, ela foi retida e, recentemente, pelo entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, não deverá mais voltar para os antigos donos, ficando então sob a tutela da PF que atuaria no processo como requerente do bem. Ocorre que esse processo ainda tramita na Justiça Federal. “O que queremos agora é que o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] se manifeste sobre esse caso. Estamos esperando por isso e já os contatamos. A fazenda cumpre todos os requesitos para ser utilizada para a reforma agrária”, declara o porta-voz do MST, Paulo Mariano de Abreu.
O movimento não permitiu a entrada de reportagem no agora acampamento na sede da fazenda, mas garantiu que nada foi destruído e que as pessoas que trabalhavam como caseiros e que teriam fugido pela manhã com medo poderão retirar os seus pertences pacificamente. “Também vamos devolver todas as cabeças de gado e aveia plantada poderá ser colhida. O que queremos é a terra, que vai acomodar mais famílias, muitas outras chegarão nos próximos dias”, avisa, ao lembrar que em breve o grupo vai definir o que plantar no local.
Secretário estadual vai visitar área hoje
O prefeito de Catanduvas, Moisés Aparecido de Souza, disse que a situação preocupa, mas, como gestor, precisa tomar conhecimento dos fatos e deixar que a Justiça decida o que deve ser feito. “Vou conversar com as famílias, fazer uma intermediação para que a família que morava ali possa retirar os pertences e as coisas vão acontecendo. (…) Legalmente o Município não pode fazer nada, o que cabe a nós é tomar pé da situação e entender os porquês e aguardar a decisão judicial”, completou.
O secretário especial de Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli, disse que foi informado sobre a invasão tão logo ela ocorreu. “A advogada dos arrendatários e o MST entraram em contato conosco relatando a situação. A princípio, o que nos foi passado é que foi uma ação pacífica e, como se trata de uma área em disputa judicial que teria vindo do tráfico de drogas, a informação que nos chegou é que há um perdimento das matrículas em prol da União, já havia uma conversa do Incra com a Secretaria Nacional Antidrogas para que essa terra fosse para a reforma agrária”, afirma.
Seriguelli alertou que, nesse caso, caberá à União pedir a reintegração da área, caso julgue necessário. Ele deverá visitar a fazenda hoje, quando visita a região para, às 15h, no Fórum de Cascavel, repassar aos donos de outro espaço invadido a reintegração de posse da Fazenda Rimafra, desocupada pacificamente há poucos dias, em Cascavel.