Cotidiano

Sem protocolo, Brasil está despreparado para socorro

Cascavel – Cascavel recebeu ontem um importante e inédito treinamento de elite da busca e resgate na América Latina. Cerca de 100 bombeiros civis, militares, socorristas e demais voluntários vindos de diversos cantos do Brasil, do Paraguai, da Argentina, do Uruguai e do Chile acompanharam orientações para, entre outros aspectos, a preparação psicológica no momento dos resgates a vítimas e reorganização de espaços assolados com sinistros ou situações do gênero.

O evento contava com 140 inscritos, mas houve a ausência de 42 pessoas, na maioria justificada por uma ação de ajuda humanitária. São voluntários que estão neste momento na Guatemala e que auxiliaram nos resgate às vítimas e na reestruturação do país após ter silo assolado pela fúria de um vulcão que expelia chamas e que deixou pelo menos 110 mortos, quase 200 desaparecidos e 1,7 milhão de pessoas afetadas.

Acostumados a lidar com situações extremas e preparados para esse tipo de ação, os voluntários brasileiros, por sua vez, esbarram em uma importante limitação: o Brasil não possui protoloco de ação em situações de urgência e emergência envolvendo catástrofes naturais e ambientais e segue regras internacionais, que não casam à realidade por aqui.

O País segue protocolos norte-americanos, por exemplo, onde há históricos de terremotos, riscos de tsunamis e frequentes tornados. “O que vemos no Brasil é um ou outro estado com protocolos próprios e para existir um único protocolo seria preciso união e vontade. Se acontecer alguma grande catástrofe, nós não estamos preparados. Sem contar que para desabar um prédio no Brasil nem precisa de um terremoto ou algo assim. Temos visto isso acontecer e no momento do resgate se observa a desorganização e a precariedade”, afirmou o vice-presidente do Comitê Internacional de Busca e Resgate – CIBER S.A.R., médico que também é bombeiro civil, José Jikal.

Jikal é paraguaio, mas mora no Brasil há 20 anos, há pelo menos dez na cidade de Palotina, e viaja o mundo para auxiliar vítimas das adversidades.

O evento de ontem foi captado pelo Cascavel CCVB (Convention & Visitors Bureau) e contou com importantes parceiros para ser realizado. Pela primeira vez ele ocorreu no Paraná. A atividade desse sábado foi no auditório da Acic, uma das parceiras, e correspondeu à última etapa do processo de capacitação do Comitê Internacional.

Uma das palestras do evento foi proferida pelo presidente do Comitê, o chileno Miguel Luan Pizarro, que fez orientações sobre o preparo psicológico no momento de busca às vitimas ou mesmo para auxiliar na reestruturação e organização de um local assolado por um destes eventos. Esse preparo se fecha à necessidade eminente de calma, tranquilidade e clareza de pensamento e de decisões no momento de auxiliar quem está em condições de desespero e de vulnerabilidade.

Além das capacitações, que só podem ser realizadas porque contam com importantes parceiros, as designações, deslocamento e permanência destes civis em locais de catástrofes também depende destes incentivadores. “Somos todos voluntários e recentemente estivemos no Chile auxiliando em um incêndio e conseguimos chegar lá porque recebemos as passagens aéreas. É importante que haja esta compreensão além da valorização do bombeiro civil, do voluntário”, destacou José Jikal, ao reforçar que é impreterível que bombeiros militares e civis caminharem juntos e que busquem sempre o preparo se possível, lado a lado.