WASHINGTON – O encontro estava indo bem, até que um dos dois disse que apoiava Donald Trump. Aí as faíscas se apagaram e eles nunca mais voltaram a se ver. É uma cena que se repete em um Estados Unidos muito polarizado, e que impulsou neste ano o surgimento de sites de encontros românticos nos quais a preferência política é o primeiro atrativo. Entre eles, se destaca um que é voltado especialmente para os seguidores do magnata republicano, que ganhou a eleição presidencial em novembro passado.
O site se chama TrumpSingles.com (Solteiros Trumpistas) e tem cerca de 12.000 pessoas registradas. Lembra outros sites de relacionamento tradicionais, como Match.com ou Cupid.com, mas a inspiração veio, na verdade, de um site similar dedicado aos seguidores do senador e ex-candidato democrata Bernie Sanders.
“Acho que o pessoal do Trump precisa mais disso”, se diverte o criador do TrumpSingles, David Goss, em uma entrevista por telefone à AFP. “Ouvi muitas histórias de pessoas que foram a encontros e tudo estava indo bem, divertido, até que a conversa política começa e mata qualquer chance de um relacionamento acontecer.”
Cerca de 15% dos americanos usam sites ou aplicativos para encontros românticos, a maioria deles entre 18 e 24 anos, segundo um estudo do Pew Research Center. E nos perfis de aplicativos como Tinder ou Happn, há uma frase que se repete com certa frequência: se você apoia Trump, nem se aproxime.
O portal de Goss, pago, é um refúgio para quem apoia abertamente o novo presidente – e também para aqueles que têm vergonha ou medo de admitir que votaram no republicano. Estes eleitores que estão “dentro do armário” são, principalmente, de cidades grandes como Filadélfia e Nova York, que votaram esmagadoramente na democrata Hillary Clinton e onde se concentra a maioria dos usuários.
No exterior, o site tem, curiosamente, usuários na Arábia Saudita e no Irã, “países dos quais Trump não é muito fã”, conta Goss.
Sobre uma foto em preto e branco de um casal rindo, o logotipo do TrumpSingles, em letras douradas e com uma bandeira dos Estados Unidos na mesma cor, está em perfeita sintonia com o estilo do presidente eleito.
O slogan também segue a mesma linha da campanha: “Making Dating Great Again” (algo como: fazendo com que os encontros românticos sejam grandiosos de novo), em referência ao “Make America Great Again” (“Tornar a América Grande de Novo”) de Trump.
Uma olhada rápida no site mostra que a maioria dos usuários são brancos, a base do eleitorado que levou o republicano ao poder. Alguns aparecem nas fotos com bonés ou camisetas da campanha de Trump.
“Não houve nenhum sinal de membros que não apoiem Trump”, disse Goss, indicando que perfis que tenham mensagens contra o candidato ou contra quem votou nele são apagados. “Não importa sua preferência sexual, sua religião, qualquer um é bem-vindo, contanto que esteja lá pelas razões corretas. As pessoas que querem estar no site para ser idiotas serão removidas”, disse o ex-produtor de televisão de 35 anos, que assegura que não são todos os partidários do republicano que são racistas ou homofóbicos.
Casado com uma republicana, Goss diz que não está associado com a equipe de Trump nem apoia “100% o que ele quer fazer”, mas que quer “um lugar para os que o apoiam”.
O empresário, que não conhece o magnata mas assegura que este sabe do seu site, lembrou que até quatro horas antes de que o vencedor da presidencial fosse anunciado ele tinha certeza de que o republicano ia perder, e já planejava como ia mudar a plataforma para se adequar ao novo cenário. Agora, aposta nos próximos quatro anos e espera ter cerca de 100.000 usuários no final de 2017.