RIO ? Atriz presente em todas as fases da novela ?Velho Chico? ? trama que começou ambientada em 1968 e chegou aos dias atuais com o elenco renovado ?, Selma Egrei, de 67 anos, é direta ao falar da sua reação quando foi convidada para interpretar a ressentida Encarnação. A matriarca da família Sá Ribeiro, que vive às turras com o filho, o coronel Afrânio (Antonio Fagundes), bateu os 100 anos na história de Benedito Ruy Barbosa, com direção de Luiz Fernando Carvalho:
? Achei estranho, né?
Passado o susto inicial, a atriz conta ter achado ótima a oportunidade de interpretar uma mulher em idade avançada, que usa um figurino pesado e se locomove com a ajuda de uma bengala. Em dia de gravação, ela leva meia hora na sala de maquiagem e sai de lá com uma espécie de máscara, feita com a ajuda de massinha, esponjas e látex, aplicada ao rosto. Diz ainda demorar cinco minutos para colocar a peruca e mais dez para vestir a roupa preta e volumosa da viúva. Links TV: 26.6
? Demoro mais ainda para tirar a maquiagem, que repuxa a pele, irrita… É como arrancar um esparadrapo. Estou com um ferimento aqui na região dos olhos ? aponta.
A personagem quase fúnebre em nada lembra as do início da carreira de Selma, nos anos 1970 e 1980, quando despontou com uma das musas da pornochanchada brasileira.
? Fiz coisas boas e outras tantas péssimas ? admite a atriz paulistana, 40 filmes no currículo, sentada no terraço do hotel onde se hospeda no Rio quando está gravando a novela.
Um de seus primeiros trabalhos no cinema, diz, foi uma ponta em um filme de Roberto Santos (1928-1987), quando ela ainda estava na Escola de Arte Dramática (EAD), em São Paulo. A partir dali, foi dirigida por nomes como Walter Hugo Khouri (1929-2003) e Fauzi Mansur:
? Caí em muita cilada. Achava que o filme seria bom, mas virava um horror. Naquela época, o diretor tinha que incluir cenas de sexo e violência por causa do mercado. Eu era jovem, não tinha muita noção. Chegou um momento, nos anos 1980, em que eu não queria mais saber de cinema. Sei que muito ator defende a pornochanchada. Eu, não.
QUESTIONAMENTOS SOBRE A CARREIRA
Hoje, ela garante não sofrer por causa dos filmes que fez no passado:
? Mas acho terrível, não teria feito nem a metade. Tive que lidar com isso. Comecei a fazer teatro, e vinha sempre o questionamento sobre a pornochanchada. Isso me incomodava profundamente.
Selma diz ter tido sorte. Fato é que, nos últimos anos, bons papéis passaram por suas mãos. Depois de interpretar a terapeuta Dora em ?Sessão de terapia? (2012-2014), série dirigida por Selton Mello para o GNT, ela emendou trabalhos elogiados no vídeo. Esteve na minissérie ?Felizes para sempre?? e na série ?Os experientes?, ambas dirigidas por Fernando Meirelles e exibidas em 2015, pela Globo. Fez ainda a novela ?Sete vidas?, dos autores Lícia Manzo e Daniel Adjafre, com direção de Jayme Monjardim, também em 2015. No cinema, em 2014, esteve no elenco do filme ?Hoje eu quero voltar sozinho?, dirigido por Daniel Ribeiro.
Para fazer ?Velho Chico??, a atriz conta que precisou negar convites para atuar num filme com Jayme Monjardim e numa peça:
? Quando me chamaram para ?Velho Chico? eu estava sem coragem para sair de um trabalho para fazer outro. Mas o Luiz (Fernando Carvalho) me envolveu. Ele botou slides, música, me levou ao galpão de ensaios.
Atriz que estreou nas novelas em 1970 com ?Simplesmente Maria?, na TV Tupi, ela diz que sua relação com a televisão nem sempre foi harmoniosa.
? Eu não conseguia me adaptar muito ? afirma ela, que chegou a ficar mais de dez anos longe do vídeo, a partir dos anos 1990.
Em um determinado momento, Selma chegou a questionar até mesmo a sua escolha profissional:
? Até falei isso para o Selton, quando ele me chamou para ?Sessão de terapia?, que não sabia se era mesmo atriz. Eu não tinha tanta dedicação. E me incomoda ficar horas trancada numa sala de ensaio, com paredes pretas e sem janelas, sem saber se lá fora estava caindo uma tempestade ou se estava sol.
Foi quando se envolveu com a dança e outras atividades, chegando a morar na Bélgica e na França. Só retornou ao teatro em 1997, com Antônio Abujamra, numa montagem de ?Fedra?, no Rio:
? Foi quando tomei gosto outra vez por trabalhar como atriz.
Hoje, o envolvimento é tanto que ela deixa até a própria saúde em segundo plano por conta do ofício. E relembra o susto que passou nas gravações da primeira fase de ?Velho Chico?, em São Francisco do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano.
? Gravamos no alto verão com essa roupa pesada, não eram sets fáceis. Passei dois dias me segurando, até o dia em que pifei. No meio da gravação, falei: ?Não estou me aguentando, está difícil?. E pum, caí ? relata, aos risos.
Selma usava espartilho e anágua por baixo da roupa da personagem e revela que evitava beber água para não ter que ir muito ao banheiro ? o que a levou a uma desidratação:
? Tive momentos de desespero. Estava gravando… E a sede, o calor, o sol na cabeça… Era difícil fazer xixi com aquela roupa, com aquele espartilho. O banheiro era um só, longe…
SAÍDA PRECOCE DO HOSPITAL
A atriz foi parar no hospital, em Salvador, por conta do desmaio.
? Foi um horror. O meu braço ficou dormente, tive uma série de sintomas. Me botaram numa ambulância e me mandaram para o hospital de helicóptero ? lembra.
A atriz foi para o CTI. Os médicos pediram para que ficasse três dias em Salvador, mas ela permaneceu apenas dois e assinou um termo de responsabilidade para deixar o hospital e retornar ao set de gravação:
? Imagina ficar lá fazendo exames com a loucura das gravações?
?Velho Chico? chega ao centésimo capítulo no dia 7 de julho. Selma está tão envolvida com o trabalho que já prevê a falta que vai sentir da novela quando a história chegar ao fim, em outubro:
? Aproveito cada minuto.