Cotidiano

Segunda queda anual seguida do PIB será de 3,5%, apontam analistas

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RIO – Com queda disseminada entre praticamente todos os seus principais componentes, com destaque para a continuidade do enfraquecimento do consumo e do investimento, o recuo do PIB em 2016 deve ficar em 3,5%, de acordo com a mediana de projeções colhidas pela Bloomberg com 29 econonomistas e analistas de mercado. O resultado oficial do indicador, que mede o nível da atividade econômica do país, será divulgado nesta terça-feira pelo IBGE. Se confirmada queda nessa magnitude, será um pouco menor do que os -3,8% registrados em 2015. Para o resultado do quarto trimestre, a mediana das projeções, de 34 analistas, é de queda de 0,5% em relação ao trimestre anterior, recuo um pouco menos intenso do que o registrado no 3° tri (-0,8%). Segundo economistas ouvidos pelo GLOBO, pelo lado da oferta, indústria e serviços devem puxar o resultado para baixo nas duas comparações. Já pelo lado da demanda, pesará um novo recuo do consumo das famílias. Para 2017, previsões vão de estabilidade à alta de 0,7%.

Projeções para o PIB de 2016

Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC, explica que boa parte desse resultado ruim do ano passado – ele projeta queda de 3,6% para o acumulado em 2016 – reflete o primeiro semestre, quando o desemprego acelerou e o ambiente econômico foi prejudicado por turbulências no campo político, com o processo de impeachment contra a então presidente da República, Dilma Rousseff.

? Tivemos um primeiro semestre muito ruim, com uma conjunção de aumento da taxa de desemprego e inflação alta, prejudicando o orçamento das famílias, que já estavam com restrições de crédito por conta da inadimplência. No início de 2016 esperávamos um ano ruim, mas não com resultados tão ruins ? observa Leal, referindo-se à projeção de uma queda muito próxima à registrada em 2015.

Projeções para o PIB do 4° trimestre de 2016

Ele complementa, ainda, explicando que os investimentos foram prejudicados por uma demora na queda da taxa de juros:

? O mercado achou que os juros caíriam mais rápido, mas passou julho, agosto e setembro e o primeiro corte só veio em outubro. Então, os índices de confiança reverteram.

De acordo com as estimativas do Santander, a economia brasileira teve contração de 0,5% no ultimo trimestre do ano, em relação ao anterior. Se a expectativa estiver correta, o PIB brasileiro exibirá queda de 3,5% em 2016, marcando esse ciclo recessivo como o mais longo da série histórica disponível.

Pelo lado da oferta, tanto indústria (-0,9%) quanto serviços (-0,4%) devem ter contraído no quarto tri, em relação ao anterior. No primeiro caso, as principais contribuições negativas parecem ter vindo da indústria de transformação (-1,4%) e da construção Civil (-2,1%). Em sentido contrário, o segmento de extrativa Mineral (2,6%) deve mostrar novo crescimento na margem, impulsionado pela maior extração de petróleo e minério de ferro. Já no que diz respeito ao PIB de Serviços, vale ressaltar o fraco desempenho das atividades de transportes (-2,3%) e comércio (-1%), como reflexo dos níveis ainda deprimidos do setor manufatureiro e das vendas ao varejo.

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Já pelo lado da demanda, o grande destaque negativo deve ser a Formação Bruta de Capital Fixo, o investimento (-3,3%), tendo em vista os resultados decepcionantes do consumo aparente de bens de capital e da construção civil no quarto trimestre de 2016. O consumo das famílias – que representa um pouco mais de 60% do PIB total – também frecuou no período, de acordo com os cálculos do banco, mas a um ritmo menos intenso (-0,3%) face aos trimestres anteriores.

Para 2017, Leal projeta alta de 0,4% para o PIB do ano, com o primeiro trimestre largando no terreno positivo (0,5%), devido aos resultados da colheita da tão esperada safra recorde.

? Este ano será um ano de transição, os investimentos devem voltar a subir, 2%, depois de acumularem queda de 30% em dois anos, e o consumo das famílias também voltará para o terreno positivo, de 0,5%.

Silvia Matos, economista do Monitor do PIB, do Ibre/FGV, aposta em alta de 0,4% do PIB deste ano, depois de queda de 3,6% em 2016, nas contas da fundação:

? O primeiro trimestre já será posivito por conta da agricultura e a indústria também vai contribuir positivamente. Os serviços tiveram um 2016 ruim porque o consumo das famílias ainda está muito retraído. Mas, ao longo do ano, a tendência é de recuperação. A liberação do FGTS das contas inativas vai ajudar esse componente a sair do negativo.

O Santander também aposta num cenário de recuperação gradual da economia brasileira em 2017, com retomada do crescimento no primeiro trimestre, ainda que de forma lenta, de 0,3%, ganhando tração na segunda metade do ano, acumulando alta de 0,7%, devido ao perfil consistente e disseminado de queda da inflação, que inclusive surpreendeu para baixo as expectativas do mercado nas últimas divulgações, o ritmo mais intenso de queda da taxa básica de juros, a estabilização do rendimento real, a sensível melhora de ativos financeiros que são bastante correlacionados com a dinâmica dos investimentos e as perspectivas bastante favoráveis para as safras das principais culturas agrícolas do país (o que deve gerar uma forte expansão do PIB da Agropecuária e corroborar o processo de descompressão dos preços internos).