Cotidiano

'Renato Russo, o musical' obtém liminar e se apresenta neste domingo

RIO ? Um dia após o Teatro das Artes ter suspendido a venda de ingressos e cancelado a sessão deste sábado do espetáculo “Renato Russo, o musical”, a produtora do espetáculo, Bianca de Felippes obteve, através de seus advogados, uma liminar que garantiu, na tarde deste domingo, a reabertura da bilheteria para a venda de ingressos da peça, assim como a realização da apresentação deste domingo, em sessão marcada para às 20h.

? O oficial da Justiça entregou a liminar aos responsáveis pelo teatro, e nós estaremos no teatro para fazer a apresentação e cumprir o nosso contratro ? disse Bianca.

No sábado, o gerente do Teatro das Artes, Luis Eduardo Araújo decidiu suspender a venda de ingressos para o espetáculo após problemas de vazamento de som terem sido relatados na última semana pela produção de outro espetáculo, “O grande sucesso”, que tem se apresentado no Teatro Clara Nunes, localizado no piso imediatamente superior ao do Teatro das Artes.

Desde que as duas produções estrearam, na semana passada, o som do espetáculo da sala de baixo (“Renato Russo”) tem interferido diretamente no espaço acústico do palco e da plateia da peça “O grande sucesso”, que é protagonizada pelo ator Alexandre Nero.

Após uma primeira tentativa, das duas produções, de alterar os horários das duas peças, que acabou não sendo efetivada, ao longo da semana técnicos das duas produções e dos teatros trabalharam juntos para tentar minimizar o problema. Estruturas para a redução de ruídos foram aplicadas nas caixas de som do Teatro das Artes, assim como a produção do espetáculo diz ter reduzido o volume do trabalho ao máximo possível ? “Chegamos a um terço do volume habitual”, diz Bianca ?, mas na última sexta-feira a música do espetáculo dedicado ao ex-líder do Legião Urbana continuava a invadir o teatro de cima e a perturbar tanto a performance dos atores como a fruição da plateia.

Após reclamações da plateia e críticas de frequentadores das últimas sessões terem sido publicadas e repercutidas nas redes sociais, a produtora Priscila Prade, responsável por “O grande sucesso”, também foi às redes manifestar seu desconforto com o problema. Em entrevista ao GLOBO, Priscila disse que as duas produções são “amigas e estão trabalhando juntas para resolver os problemas”, diz.

? Ao longo de toda a semana trabalhamos com nossos técnicos e profissionais para tentar contornar o impasse ? diz. ? A produção do “Renato Russo” reduziu ao máximo possível o volume do espetáculo, e mesmo assim o som continuou vazando. Acho que eles têm o direito de realizar um bom espetáculo, assim como nós temos esse direito. O que não pode é vazar som de um para o outro. O nosso som também vaza para o teatro de baixo, mas só para a cabine de som e de luz, e não chega a interferir na plateia e no palco.

As produtoras dos dois espetáculos acreditam que o vazamento de som deve-se a um problema estrutural, de isolamento acústico, de ambas as salas, porém os proprietários dos dois teatros rebatem a hipótese. Eles garantem que seus teatros têm tratamento acústico e defendem a tese de que a causa do vazamento é volume elevado do som do musical que homenageia Renato Russo.

? Na quinta-feira recorri a um especialista em isolamento de som, realizamos algumas estratégias para proteger e controlar o som das caixas, mas o som da bateria e da voz continuou vazando para a sala de cima ? diz o gerente do Teatro das Artes. ? A produção está fazendo a peça como um show de rock, com volume alto e muitas caixas de som. Eles não estão utilizando o nosso som, e nem a nossa mesa de som, e trouxeram caixas para fazer um show.

Bianca de Felippes refuta a declaração do gerente do teatro. Ela diz que realiza o projeto há mais de dez anos sem qualquer problema do tipo, que e se o impasse não for resolvido irá tomar as medidas legais cabíveis para o caso.

? No sábado eles suspenderam as vendas numa decisão unilateral e arbitrária, sem qualquer consentimento ou aviso ? diz Bianca. ? Fomos pegos de surpresa. Conseguimos uma liminar para realizar a peça no sábado, mas eles mantiveram as vendas suspensas e a porta do teatro fechada. Não respeitam uma ordem de um juiz. Iremos à Justiça caso isso se repita e vamos atuar para sanar nossos prejuízos. Dependemos da bilheteria para pagar as nossas contas e os salários de toda a equipe. Cada dia fechado pode representar um prejuízo de até R$ 50 mil.

Incomodada com o impasse, a produtora de “O grande sucesso” afirmou ao GLOBO que, caso o problema volte a ocorrer na sessão deste domingo, ela irá cancelar integralmente a temporada do espetáculo, e que também deverá recorrer à Justiça para contornar os possíveis prejuízos gerados pela suspensão da temporada.

? Caso esse problema se repita, irei cancelar a temporada por justa causa. Estou amaparada por advogados e já comuniquei o problema ao Ministério da Cultura ? diz a produtora. ? Também é preciso deixar claro que não irei cancelar a temporada por causa do espetáculo “Renato Russo”, mas sim por causa da falta de estrutura e condições de tratamento e de isolamento acústico dos dois teatros mais caros do Rio. Pagamos R$ 18 mil por fim de semana. No fim das contas, a questão é uma só: em teatro bom não tem que sair som nenhum de um teatro para o outro.

Proprietário do Teatro Clara Nunes, José Ernani Campelo diz que também sente-se penalizado com o problema.

? Estamos cumprindo o nosso contrato com a produção (de “O grande sucesso”), e assim como a peça nós, do teatro, também estamos sendo prejudicados por esse problema. O contrato diz que nenhuma produção pode prejudicar a outra, mas nós não estamos prejudicando o teatro e a peça de baixo. Não está vazando som do nosso teatro para o teatro de baixo. O problema vem da peça de baixo, que faz trepidar o palco do nosso teatro Assim como a produção de “O grande sucesso”, também me sinto penalizado..