WASHINGTON ? O regime sírio aprovou neste sábado o acordo de cessar-fogo acertado um dia antes por EUA e Rússia, anunciou a agência estatal. Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou que os dois países chegaram a um acordo e que deverão anunciar um plano para reduzir a violência na Síria e levar à paz e à transição política. Pelo pacto, um novo cessar-fogo deverá começar na segunda-feira e valerá para todo o país. Como principal destaque do pacto, os dois lados indicaram que devem chegar a uma cooperação militar contra o terrorismo.
“O governo sírio aprovou o acordo, que tem como um dos seus objetivos encontrar uma solução política para a crise da Síria”, escreveu a agência SANA. “O cessar das hostilidades vai começar em Aleppo por razões humanitárias.”
O anúncio do pacto foi feito após longas reuniões durante o dia com o ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, em um hotel de Genebra.
? Hoje, Estados Unidos e Rússia anunciam um plano pelo qual, esperamos, se poderá reduzir a violência e o sofrimento, e retomar o caminho para uma paz negociada e uma transição política ? declarou Kerry ao lado de Lavrov. ? A cessação das hostilidades pode ser um ponto de mudança na guerra.
Segundo Kerry, a trégua irá requirir acesso a todas as áreas ocupadas e de difícil acesso, como Aleppo. O processo terá importância para o futuro próximo da Síria, ele afirmou.
? Todas as partes envolvidas no conflito mostraram interesse em voltar à mesa de negociações ? disse ele.
Lavrov afirmou que os acordos estão delineados em cinco documentos que dão conta de temas como cooperação contra grupos terroristas combatidos pelos dois países, esforço por ajuda humanitária e a retomada nos mesmos termos da trégua anunciada em fevereiro e que fracassou após poucas semanas.
Apesar de disputas durante a semana por divergências, Lavrov disse que seu país está convicto de uma retomada das conversas de paz congeladas após um fracasso nas negociações entre setores do governo de Bashar al-Assad e a oposição.
? O acordo pode ajudar a expandir a luta contraterrorista e a entrega de ajuda humanitária para civis ? disse Lavrov, afirmando ter o apoio do aliado Assad na decisão.
O secretário de Estado americano destacou que “se a trégua puder ser mantida por uma semana, abrirá caminho para uma cooperação entre as forças militares de EUA e Rússia visando combater os extremistas islâmicos”. Moscou havia feito uma proposta semelhante anteriormente, mas Washington tinha receios.
? Os Estados Unidos acreditam que a Rússia e meu colega (Lavrov) têm a capacidade de pressionar o regime de Assad para deter este conflito e sentar na mesa de negociações para se obter a paz.
Se o plano der certo, será estabelecido um centro de implentação conjunta para compartilhar dados e atacar o Estado Islâmico e a frente Fateh al-Sham (ex-al-Nusra, que deixou de ser filiada à al-Qaeda). Para isso, a Rússia deverá persuadir Assad a parar de bombardear áreas de grande densidade populacional. Já os EUA deverão garantir que os rebeldes que apoia se separem em definitivo de grupos radicais.
Mais cedo, Lavrov acusou os Estados Unidos de atrasarem um acordo durante as negociações em Genebra.
Já neste sábado, a Turquia celebrou o pacto firmado entre EUA e Rússia. O governo turco afirmou que está se preparando para fornecer ajuda humanitária a Aleppo, em uma ação conjunta com as Nações Unidas. O país, que conduziu sua primeira grande incursão militar na Síria há pouco mais de duas semanas, prometeu também apoiar os esforços para garantir que a trégua se mantenha e transformar o acordo em uma solução política de longo prazo.
O maior grupo de oposição na Síria disse esperar que o novo pacto entre Moscou e Washington diminua o sofrimento dos civis, embora tenham recebido a notícia da trégua com cautela. À Associated Press, o representante do Alto Comitê de Negociações (ACN), Basma Kodmani, afirmou que o governo russo deve pressionar o presidente sírio, Bashal al-Assad, a respeitar o recente acordo.
? Damos as boas-vindas ao acordo, se é que vai ser aplicado ? afirmou Kodmani.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, pediu no sábado que a Rússia use toda a sua influência para garantir que o governo sírio cumpra suas obrigações no acordo diplomático.
? É vital que o regime em Damasco agora cumpra suas obrigações. Eu peço que a Rússia use toda a sua influência para garantir que isso aconteça. Eles serão julgados pelas suas próprias ações ? afirmou Johnson.
Washington e Moscou, que há cinco anos apoiam lados opostos em conflito que já deixou mais de 290.000 mortos e milhões de deslocados, tentam reativar o plano de paz do final de 2015 elaborado pela comunidade internacional, que inclui uma trégua duradoura, um esquema de ajuda humanitária e um processo de transição política entre e a oposição moderada.
Reativar o processo de paz é crucial para a situação humanitária em Aleppo, que se degrada dia a dia, principalmente após o cerco estabelecido pelas forças do regime.