Cascavel – Quadrilhas especializadas na falsificação do dólar por meio de notas de bolívar (moeda venezuelana) têm intensificado a presença nas estradas da região oeste do Paraná. Os carregamentos com a matéria-prima da Venezuela costumam cruzar as rodovias da região com destino a Cidade do Leste, no Paraguai, via BR-277, e em Salto del Guayrá, neste caso, utilizando como caminho a Ponte Ayrton Senna, em Guaíra. A constatação é da própria Polícia Federal, que recentemente apreendeu dinheiro venezuelano em Santa Terezinha de Itaipu, via BR-277. Nesse caso, uma dupla sertaneja foi apreendida pela PF com 470 mil bolívares no carro, que, segundo os acusados, haviam recebido de um músico boliviano pelos serviços prestados.
Em Guaíra, o dinheiro é transportado via Ponte Ayrton Senna, até chegar a Salto Del Guayrá, no Paraguai. Ali, a Polícia Federal interceptou um carregamento de cerca de 25 toneladas de cédulas de bolívares prontas para serem remetidas para a Ásia. As cédulas estavam em sacos na propriedade de um conhecido comerciante de armas no Paraguai. A maioria das notas era de 100 e 50 bolívares. A PF afirma que elas seriam transformadas em dólares. “Do Paraguai, o dinheiro segue para o continente asiático para fins de falsificação e transformação em moeda americana”, confirmou o delegado da Polícia Federal em Cascavel, Marcos Smith.
Houve também apreensões feitas pela Polícia Federal em cidades como Marechal Cândido Rondon e Cascavel.
Na rota do crime
Desde o fim do ano passado, a região oeste do Paraná tem se tornado rota das quadrilhas especializadas na falsificação de bolívares (moeda venezuelana) em dólar. “A Polícia Federal tem intensificado os trabalhos no sentido de coibir esse tipo de prática”, garante Smith. “Já temos um histórico de apreensão de bolívares destinados à falsificação do dólar, que entram no Paraguai com destino à Ásia, onde a quadrilha internacional se encarrega de proceder a falsificação em laboratórios especializados”, explica.
A moeda venezuelana entra no Brasil por Roraima e desce em direção ao Sul do País, pois precisa chegar até o Paraguai para somente depois ser destinada ao mercado asiático. Há relatos de que na Venezuela existe um grande comércio de notas de 100 bolívares, que, após passar pela lavagem química, recebem uma nova impressão e detalhes do dinheiro americano.
Peritos relatam que o bilhete venezuelano é ideal para a falsificação devido ao seu baixo custo e por não ser detectado em alguns tipos de teste de autenticidade.
Falsificadores do Peru, por exemplo, usam notas de 10 bolívares e as transformam em notas de US$ 100. Nesse processo, as notas são descoloridas e dão lugar à imagem de Benjamin Franklin. Na Venezuela, a desvalorização do bolívar é crescente. O poder de compra é tão baixo que em alguns estabelecimentos as vendas são feitas com o peso das notas, devido à quantidade necessária para realizar as compras.
A Venezuela tem uma das maiores taxa de inflação do mundo, por isso o valor de cada cédula é muito pequeno. No Brasil, um bolívar equivale a R$ 0,3140. Na conversão com o dólar, por exemplo, são necessários 9,98 bolívares para a compra de US$ 1.
No começo deste ano, a Polícia Federal fez uma mega-apreensão da moeda venezuelana no Rio de Janeiro, totalizando 40 milhões de bolívares. O valor, em reais, equivale a R$ 12,56 milhões, mas provavelmente essas cédulas virariam dólares e seu valor se multiplicaria.
No fim do ano passado, o governo de Nicolás Maduro anunciou a retirada de circulação das notas de 100 bolívares diante do aumento significativo do contrabando destas notas a outros países, inclusive para o Brasil, por onde passam para chegar até a Ásia, para serem falsificadas e transformadas em dólar.