VITÓRIA ? As autoridades de segurança do Espírito Santo conseguiram melhorar, durante o fim de semana, alguns números e cenários da colapso que já dura nove dias, mas o movimento de ocupação dos quarteis pelas mulheres de policiais permanece e ainda continua com o apoio da maioria da tropa, que está aquartelada.
Entre sábado e domingo, segundo a secretaria de Segurança, 1.236 policiais atenderam ao chamado do comando-geral da PM e se apresentaram em pontos determinados da capital e do interior. O número de homicídios chegou a 144, mas foram registrados apenas quatro entre a tarde de sábado e a tarde de domingo, número bem menor que a média diária da semana passada.
Com maior presença das tropas federais nas ruas (são mais de 3 mil homens em todos o estado), a tendência é a Região Metropolitana de Vitória retomar ares de normalidade nesta segunda-feira. A prefeitura informou que servidores trabalharão normalmente. O comércio deverá abrir maciçamente pela primeira vez desde o início da crise, as escolas voltarão a funcionar e a maioria das empresas deve reabrir e os ônibus voltarão a circular. Isto será um desafio também para as mulheres acampadas nos batalhões, já que muitas delas precisarão trabalhar.
Nem todos os 1.236 PMs que se atenderam ao chamado de operação do comando-geral no fim de semana deixaram de apoiar o movimento. São policiais que estavam de folga ou de férias, fora dos batalhões, e boa parte ainda defende a paralisação, mas se apresentou para evitar punições por desobediência. Em Vitória, a Praça Oito, a Praça do Papa e a rodoviária foram os pontos de concentração. A maioria não tinha a farda e armas (que estão nos quarteis) e por isso não puderam efetivamente patrulhar a cidade.
Para cerca de 200 homens do Batalhão de Missões Especiais (BME, equivalente ao Bope no Rio), foi diferente. Com a ordem de se apresentar em frente à Capitania dos Portos, unidade da Marinha, muitos se diziam ainda favoráveis ao movimento, e se apoiavam na falta de equipamentos para não ir para a rua, evitando enfraquecer a paralisação.
? Os que querem voltar ao trabalho são os oficiais, que ganham de R$ 9 mil para cima ? disse um policial, sem se identificar.
Ao entrar na Capitania, os mesmo do BME foram surpreendidos com a ordem de que seriam levados de helicóptero para pegar suas fardas e armas na sede do batalhão (que está com as portas bloqueadas pelas mulheres) e voltar para ir às ruas. Dois helicópteros fizeram dezenas de vezes a viagem de quatro quilômetros.
A mulher de um membro do BME mostrou ao GLOBO a mensagem que recebeu do marido, por WhatsApp: “Sequestraram a gente. Aqui não temos como recusar as ordens. Se não, é cadeia em presídio militar de 8 a 20 anos. Aqui f*** com a gente”.
? Eles foram chamados a se apresentar apenas, não sabiam para onde iriam. E foram ameaçados, obrigados a entrar no helicóptero ? disse outra mulher de membro do BME.
Em Brasília, o presidente Michel Temer se reuniu com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, o ministro interino da Justiça, José Levi do Amaral e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional para discutir o caso no Espírito Santo. O presidente não deu declarações depois do encontro. A melhora de alguns indicadores no fim de semana levou o ministro da defesa a dizer que a crise está “superada”.
? Quem normalmente vai à praia em Vitória foi neste domingo, 100%. Amanhã (hoje) as escolas vão abrir o sistema de transportes funcionara completamente ? afirmou Jungmann.